Pandemia em Piracicaba demanda conscientização da população

por | 8 jun, 2020 | 0 Comentários

Pedro Mello, secretário de Saúde de Piracicaba, avalia o atual cenário do coronavírus no município.

O primeiro caso do novo coronavírus no Brasil foi confirmado em 26 de fevereiro de 2020 e motivou a criação de um comitê de crise em Piracicaba, em que são definidos planos para o enfrentamento do vírus. Quase um mês depois, a cidade registrou o primeiro paciente infectado pela Covid-19, em 24 de março: um homem de 77 anos, do grupo de risco e com histórico de viagem. Ele veio a óbito. 

Desde o início da batalha que a cidade travou contra o novo coronavírus, o médico pneumologista e secretário de Saúde de Piracicaba, Pedro Mello, alertou sobre a importância do isolamento social para a prevenção da Covid-19. O município decretou o fechamento de comércios e de serviços não essenciais na mesma data em que foi confirmado o primeiro caso. Em 1º de junho, ocorreu a reabertura parcial do comércio local, seguindo medidas iniciais de flexibilização do governo de SP. 

Segundo o secretário de Saúde, o nível de adesão da população ao isolamento não foi significativo e se manteve abaixo dos 60%, conforme o Sistema de Monitoramento Inteligente do Estado de São Paulo (SMI-SP). 

Pedro Mello relata que Piracicaba conta com uma força-tarefa de cuidados preventivos e uma base estruturada na saúde para o combate da doença. Ele prevê que a população possa retomar sua rotina ainda em 2020, mas destaca que, neste momento, a palavra que deve nos guiar é consciência.

Acompanhe a entrevista completa que Pedro Mello deu à Trinova Press.

TRINOVA – Como foi o processo de estruturação para o enfrentamento ao coronavírus em Piracicaba?

PEDRO MELLO – Montamos um comitê de crise, composto por representantes de várias secretarias municipais e áreas técnicas da saúde, hospitais públicos e privados, entre outros, buscando elaborar estratégias de enfrentamento ao coronavírus. Além disso, o prefeito Barjas Negri convocou diversos segmentos importantes da sociedade, como setor educacional, Acipi, sindicatos e entidades de classe para discussões permanentes sobre as ações. Foi escolhida a UPA  Piracicamirim para ser o hospital de campanha durante o combate à pandemia e assim foi instalada uma ampla tenda anexa à unidade onde passou a funcionar o centro de triagem do coronavírus. Criamos ainda o Disk Coronavírus, um 0800 para orientar a população sobre dúvidas diversas relacionadas à Covid-19 e sobre como proceder em caso de sintomas. Treinamos todas as equipes médicas e de enfermagem que passariam a trabalhar na linha de frente durante todo o período e foi definida a aquisição de Equipamentos de proteção individual (EPIs).

TRINOVA – Como os hospitais foram preparados para a pandemia e qual o critério para a internação de pacientes? 

PEDRO MELLO – Houve um trabalho em sintonia para evitar problemas de percurso. Os hospitais do município, públicos e privados, criaram então alas específicas para atendimento aos pacientes com a doença, diminuindo o fluxo cruzado. O objetivo dessa ação foi evitar a contaminação com o coronavírus de pacientes que estão nesses locais por conta de outras doenças. Normalmente, 80% das pessoas com a Covid-19 têm sintomas leves ou imperceptíveis e 20% precisam de hospitalização com cuidados especiais, sendo que apenas 20% dos pacientes hospitalizados utilizam os leitos de UTI.

TRINOVA – Como está sendo feita a aplicação dos testes de Covid-19 em Piracicaba? 

PEDRO MELLO – São feitos dois tipos de testes. O molecular (PCR) detecta a doença por meio do SWAB nasal, sendo que o ideal é que ele seja feito a partir do primeiro ao décimo dia de suspeita após o início dos sintomas. O teste rápido (imunológico) deve ser feito preferencialmente a partir do décimo dia da suposta contaminação. Ele identifica as defesas do organismo a um agente externo, como o vírus que provoca a Covid-19, e indica a fase de contaminação em que o paciente se encontra, permitindo, assim, seguir o protocolo mais adequado de tratamento, monitoramento e alta. 

TRINOVA – Como avalia a adesão ao isolamento social na cidade? 

PEDRO MELLO – Infelizmente, não tivemos uma adesão maciça ou significativa da população ao isolamento, ou seja, nos mantivemos bem abaixo dos 60%. É claro que, quanto maior a adesão, menor o índice de contaminação. Mesmo assim, até este momento, estamos conseguindo manter a doença em níveis razoáveis de controle.

TRINOVA – Como avalia o número de casos confirmados e de óbitos em Piracicaba em relação ao tamanho da cidade?

PEDRO MELLO – No dia 26 de maio, o Brasil tinha 179,89 casos confirmados por 100 mil habitantes, sendo que, em Piracicaba, esse número estava em 121,53, ou seja, um índice bem abaixo do registrado no território nacional. Com relação à mortalidade, o Brasil registrava, nessa data, 6,25% por 100 mil habitantes. Em Piracicaba, o índice era de 4,68%.

TRINOVA – Quais os cuidados da população e dos comerciantes com a retomada gradual do funcionamento do comércio?

PEDRO MELLO – À medida em que a flexibilização ocorre, a população deve ter mais consciência e seguir com mais rigor as medidas de proteção e higiene para preservação da saúde, como o distanciamento social, o uso contínuo de máscara, lavar as mãos com água e sabão com frequência e usar álcool em gel após contatos imprevisíveis. 

TRINOVA – Acredita que ainda neste ano iremos retomar as nossas rotinas normalmente?

PEDRO MELLO – Acredito que sim, desde que a população tenha consciência de que ainda não temos medicamentos específicos nem vacina contra essa terrível doença. Ou seja, seguindo com determinação as orientações de higiene pessoal, distanciamento, entre outras, sem se iludir com informações que não sejam oficiais e que possam levar ao relaxamento das medidas de segurança contra o vírus.

TRINOVA –  Como secretário de Saúde de Piracicaba e médico, qual aprendizado você tira desta pandemia?

PEDRO MELLO – Trata-se de um período de muitos desafios, seja na forma de pensar, seja na forma de agir. Tudo voltará a ser como era antes ou até pior. Prefiro acreditar que sempre é possível tirar uma lição que nos fortaleça enquanto coletividade. E que possamos evitar problemas sanitários futuros capazes de comprometer o desenvolvimento econômico e social do país. Quero crer que essa fase ficará para trás. Em nossa cidade, prevejo um salto de qualidade na saúde e uma conscientização geral dos piracicabanos.

 

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