Seu celular escuta suas conversas para mostrar anúncio?

por | 14 abr, 2020 | 0 Comentários

Estamos sendo vigiados.

Há alguns meses eu estava assistindo o filme Sexy Por Acidente (I Feel Pretty) e fiquei encantada com o scarpin amarelo que a protagonista, interpretada pela hilária Amy Schumer, usou em algumas cenas. Comentei em voz alta: “Nunca tinha visto um scarpin amarelo. Adorei! ”. Logo em seguida apareceu no meu feed do Instagram uma postagem patrocinada, adivinhem do que? Sim, de um scarpin amarelo idêntico ao do filme. Em outra ocasião, falei por áudio para um contato no WhatsApp que estava procurando preços de fones de ouvidos sem fio. No mesmo dia apareceram três propagandas de produtos similares. Situações como essas já se tornaram rotina em nossas vidas e a conclusão parece óbvia: o celular usa o microfone para espionar as pessoas e empurrar propagandas com base nas nossas conversas.

Mas calma, não é bem assim que as coisas funcionam.

Serviços conectados e aplicativos acessam, sim, a câmera, o microfone e outros componentes do celular. Mas fazem isso com o seu consentimento e, a princípio, para que alguma de suas ferramentas possa funcionar. Por exemplo, se você não autorizasse o uso do microfone ao Instagram, seus vídeos captados pelo aplicativo sairiam sem áudio.

Para desvendar essa questão, especialistas em ciência da computação da Northeastern University e da universidade de Boston checaram se aplicativos usavam mesmo o microfone do celular para ouvir os usuários sem que soubessem. Durante um ano, testaram os 17 mil aplicativos mais populares para Android, incluindo os do Facebook, como Instagram e WhatsApp. Eles também analisaram se esses serviços mandavam informações para a rede social.

A conclusão? Não há qualquer evidência de que esses aplicativos usam o microfone para gravar ou enviar áudio sem a atuação do usuário.

Quando questionadas sobre o assunto, as empresas Google, Facebook, Apple e Samsung negam a utilização de áudios dos usuários para direcionar publicidade.   O Facebook já desmentiu publicamente boatos do tipo:  “Mostramos anúncios com base nos interesses das pessoas e outras informações de perfil — não com base no que elas estão falando. Apenas acessamos o microfone dos telefones das pessoas quando elas estão utilizando ativamente alguma ferramenta específica que requer áudio e somente quando autorizam a utilização, como por exemplo gravação de vídeos”, afirmou em nota.

Ou seja, eles não precisam nos escutar.

Quando você demonstra ter gostado de um produto ou serviço na internet, anúncios sobre aquilo passarão a persegui-los por diversas plataformas. O “retargeting” é uma ferramenta muito utilizada pela publicidade para gerar vendas para aquele produto pelo que você já demonstrou interesse. Quando você clica em algo que está conectado a essa tecnologia, você deixa uma trilha da sua identidade digital atrelada aquele produto.

Penso, logo, gero dados

O tempo todo plataformas como Google, Facebook, YouTube, Instagram, Messenger e outros, com cookies do navegador e pixels em websites, monitoram nossas preferências, cruzam nossos dados e nos categorizam em clusters (grupos) para nos vender propagandas direcionadas.

Estarmos sendo vigiados, portanto, é possível mesmo sem uma escuta constante. O alento é que podemos monitorar quem nos monitora. O Google disponibiliza todas as atividades de seus usuários para que eles possam escolher se querem editar, deletar ou cessar a coleta de informações. Na seção “Controle de Atividade” é possível ver as informações que a empresa coletou de nossa localização, histórico de buscas, de acesso a sites (pelo uso do navegador Chrome).

No site do Facebook, na seção de preferências de ads (facebook.com/ads/preferences/), é possível ver todos os interesses que a empresa supõe que você tenha, desde mídia a pessoas, passando por comidas, estilo de vida, esportes. O Facebook, que exige registro para usar, consegue ver qual é o aparelho de celular e tablet que o usuário tem, se mora longe da família, a qual geração pertence e até qual é a categoria de bens de consumo que tem em casa.

Assistente de voz ou espiã?

Quanto mais pessoas se rendem ao conforto da tecnologia, mais dúvidas surgem sobre as implicações de convidar microfones poderosos de grandes empresas de tecnologia a entrar na rotina das nossas casas. Milhares de pessoas no mundo inteiro usam assistentes de voz para pesquisar informações como o Google Assistant, Siri (Apple), Alexa (Amazon), Bixby (Samsung) e Cortana (Microsoft).

Seria muita inocência acreditar que essas grandes corporações iriam receber nossas informações de pesquisas em alto e bom tom – literalmente – e não fazer nada com esses dados valiosos. Sim, porque por mais que alguns pedidos à Siri pareçam bobos como, por exemplo, uma pesquisa de restaurantes, qualquer fala é importante para criação de um banco de dados.

Em abril deste ano, uma investigação feita pela Bloomberg revelou que funcionários da Amazon estavam ouvindo trechos de conversas que seus usuários tinham com a assistente de voz Alexa. Logo em seguida, em julho, ocorreu um vazamento de mais de mil trechos de áudios gravados pelo Google Assistant, expondo informações confidenciais de seus usuários, como nomes, senhas, informações médicas e endereços.

A Apple também não passou imune e foi alvo de uma denúncia anônima expondo a mesma prática. O mesmo ocorreu com a Microsoft, denunciada de ouvir trechos de cinco ou 10 segundos de ligações privadas no Skype.

Todas afirmam que tal captação é para a melhoria dos aplicativos. Elas tinham a política de repassar parte desses áudios a empresas terceirizadas, que faziam esse trabalho de forma barata, anônima e distribuída em países de baixa renda. As denúncias apontaram o fato de que não havia muito controle sobre o tipo de informação sensível que passava pelas mãos dos “escutadores”, e que os dados gravados poderiam ser usados de forma indevida.

Nesse caso, será que vale a pena a facilidade de pedir uma pizza à Alexa ou checar o tempo com a Siri em troca de nossa privacidade? Talvez seja a hora de tomar mais cuidado com o que falamos por aí.

PARECE FICÇÃO, MAS NÃO É

 A discussão sobre a insegurança em relação à nossa privacidade online não é novidade e já ganhou espaço nas produções cinematográficas. Parece ficção, mas é a realidade que não conhecíamos e que nos manipula em nossas escolhas, desde simples compras até a decisão para a eleição presidencial de um país.

Snowden: Herói ou Traidor

Em 2013, Edward Snowden ficou famoso ao revelar ao mundo detalhes de programas secretos que faziam parte do sistema de vigilância global da Agência de Segurança Nacional americana e comprovou que você pode estar sendo espionado neste mesmo momento, através dos serviços de internet usados no cotidiano.

O filme “Snowden: Herói ou Traidor” de 2016, com direção de Oliver Stone, disponível na Netflix, conta essa história do herói mundial que se tornou um dos maiores inimigos e traidores dos Estados Unidos.

Privacidade Hackeada

O documentário da Netflix lançado neste ano traça uma narrativa que busca esclarecer o escândalo revelado em 2016 envolvendo a empresa Cambridge Analytica que teria usado dados de milhões de usuários do Facebook para influenciar as eleições americanas de 2016 e os resultados do plebiscito sobre o Brexit (Saída do Reino Unido da União Europeia)As consequências ficaram tão sérias que depois disso foi criada a Lei Geral sobre a Proteção de Dados. A Cambridge Analytica declarou falência.

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