A REVOLUÇÃO SONORA DE 1971: O ANO QUE TRANSFORMOU A HISTÓRIA DA MÚSICA

por | 31 maio, 2021 | 0 Comentários

HÁ 50 ANOS, NOVAS BANDAS, ÁLBUNS CLÁSSICOS E VÁRIAS VERTENTES DO ROCK SE MISTURARAM A LUTAS POLÍTICAS E MUDANÇAS COMPORTAMENTAIS QUE NOS AFETAM ATÉ HOJE

Em 10 de abril de 1970, Paul McCartney anunciou a sua saída dos Beatles e deixou órfãos muitos amantes da boa música em todo o mundo. Afinal, desde a morte de Buddy Holly, Ritchie Valens e The Big Bopper, em um acidente aéreo, no dia 3 de fevereiro de 1959, no evento que ficou conhecido como “O Dia em que a Música Morreu”, imortalizado, inclusive, na emblemática canção de Don McLean, “American Pie”, o planeta todo já havia se acostumado à dianteira tomada pelos britânicos frente ao inesperado fim do movimento Rockabilly, que perpassou a segunda metade dos anos 50 e foi liderado, basicamente, por norte-americanos.

A influência causada por artistas como Chuck Berry, Little Richard e Carl Perkins (sem nos esquecermos do mais emblemático deles, Elvis Presley) em jovens do outro lado do Atlântico foi essencial para que os quatro rapazes de Liverpool montassem o próprio grupo e rumassem ao sucesso de maneira não vista até hoje.

A partir de 1962 e pelos oito anos seguintes, nadariam de braçada em um mar que apresentou vários incríveis talentos em escala universal, e o seu fim, sem dúvida nenhuma, abriu uma concorrência ferrenha a fim de decidir quem ocuparia o lugar deixado vago pela banda de John, Paul, George e Ringo.

O ano de 1971 seria o primeiro até então sem contar com os Beatles a disputar as paradas de sucesso. Outras bandas da chamada “Invasão Britânica”, como os Rolling Stones e o Who continuavam a toda e em seus respectivos auges. Além disso, bandas recém-surgidas como Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Pink Floyd, Yes e Jethro Tull também despontavam e mostravam que estavam chegando para ficar.

Diversos eventos, com efeitos em escala mundial, como as guerras do Vietnã e dos Seis Dias, a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, a implantação e o recrudescimento das ditaduras na América Latina, o processo de independência dos países africanos e a própria disputa geopolítica impetrada pela Guerra Fria estavam presentes ou ainda assombravam o planeta naquele longínquo ano.

O psicodelismo trazido pelo “Verão do Amor”, de 1967, e pelo movimento hippie, ainda estava presente quando os anos 70 despontaram. Era uma época de descobertas em todos os sentidos: políticos, sexuais, religiosos, artísticos, comportamentais e por aí vai. Foi nesse momento que três álbuns surgiram e estouraram nas paradas de sucesso, trazendo uma revolução sonora até então não experimentada. “Sticky Fingers”, dos Rolling Stones; “Who’s Next”, do Who; e “Led Zeppelin IV”, do Led Zeppelin, trouxeram influências musicais do mundo todo e, após lançados, acabaram também por inspirar artistas dos mais remotos lugares do globo, em uma troca artístico-musical não experimentada nos dias atuais, por exemplo.

Da marcante abertura de “Brown Sugar” à melancolia de “Moonlight Mile”; da “devastação adolescente” trazida por “Baba O’Riley” a decepção com o início da nova década em “Won’t Get Fooled Again”; da estrondosa batida de bateria em “Black Dog” ao cortante blues de “When the Levee Breaks”, estes álbuns se tornaram parte significativa da trilha sonora da vida de muita gente e transformaram a mente de um grupo considerável de pessoas que, sem dúvida nenhuma, lutou e buscou e ainda luta e busca por mais paz e amor entre todos os seres humanos. Vida longa ao rock!

Sticky Fingers

O 11º álbum de estúdio (na discografia norte-americana) e o nono (na discografia britânica) dos Rolling Stones, foi lançado no Reino Unido em 23 de abril de 1971 e em 30 de abril do mesmo ano nos Estados Unidos.

O primeiro lançamento do quinteto inglês em seu recém- criado selo, Rolling Stones Records (até então, eram contratados, desde 1963, da Decca Records, no Reino Unido, e da London Records, nos Estados Unidos), é também o primeiro álbum da banda em que aparece o conhecido logotipo da língua e no qual o guitarrista Mick Taylor, substituto de Brian Jones, toca do início ao fim.

Sobre as canções, o long play traz clássicos incontestáveis da carreira dos Stones, como “Sway”, “Wild Horses”, “Sister Morphine” e “Dead Flowers”, além das já citadas “Brown Sugar” e “Moonlight Mile”.

A capa do LP é uma das mais emblemáticas da história do rock até hoje. Concebida por Andy Warhol, a imagem mostra uma virilha masculina em close, vestindo uma apertada calça jeans, que esconde um pênis, supostamente, ereto. Originalmente, ela possuía um zíper que se abria para revelar uma cueca de algodão. Após os varejistas se queixarem que o zíper estava causando danos ao vinil, este foi transferido para o centro do disco, onde o problema seria minimizado.

Por fim, é importante saber que “Sticky Fingers” faz parte do quarteto de álbuns lançados durante o auge da banda britânica (todos considerados obras-primas), sendo o terceiro deles em ordem cronológica, ao lado de “Beggars Banquet”, de 1968; “Let it Bleed”, de 1969; e “Exile on Main Street”, de 1972.

Who’s Next

“Who’s Next” é o quinto álbum de estúdio do Who, lançado em 2 de agosto de 1971, nos Estados Unidos, e em 25 de agosto do mesmo ano, no Reino Unido.

A obra surgiu das cinzas do desastroso projeto “Lifehouse”, ao qual o guitarrista Pete Townshend pretendia organizar como um concerto ao vivo, onde os dados pessoais de integrantes da plateia seriam transferidos para um sintetizador análogo ARP, a fim de criar músicas contínuas que se complementavam. A ideia, que com o tempo mostrou-se irrealizável de várias maneiras, acabou por provocar um grande desentendimento entre Townshend e o produtor da banda, Kit Lambert, levando o músico às raias de um colapso nervoso quase suicida.

Depois de gravarem algumas canções em Nova York, o Who voltou ao Reino Unido e entrou novamente em estúdio, começando tudo do zero. O uso massivo de sintetizadores ocasionou um som inédito até então e que fez de canções como as já mencionadas “Baba O’Riley” e “Won’t Get Fooled Again” clássicos atemporais do rock e, muitos anos depois, temas de abertura de duas séries da franquia CSI. Além dessas duas obras-primas da música dos anos 70, fizeram muito sucesso também “Bargain”, “Love Ain’t for Keeping”, “The Song is Over” e “Behind Blue Eyes”.

A capa é algo à parte. Traz uma fotografia da banda acabando de urinar em um imenso bloco de concreto, em uma clara referência ao monolito descoberto na Lua no filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, lançado em 1968, e é interpretada por muitos como uma libertação da banda em relação ao álbum anterior, a ópera- rock “Tommy”, que também alcançou imenso sucesso e, por isso mesmo, poderia ter feito o grupo ficar preso artisticamente a ele, o que, definitivamente, não aconteceu.

Led Zeppelin IV

O quarto álbum de estúdio do Led Zeppelin foi lançado em 8 de novembro de 1971 e nunca recebeu um título oficial, sendo, por isso mesmo, conhecido, apenas, como “Led Zeppelin IV

Após os comentários negativos da crítica a respeito do trabalho anterior, “Led Zeppelin III”, não só sobre a falta de criatividade em relação ao título, mas sobre vários aspectos da obra como um todo, o guitarrista Jimmy Page decidiu que o quarto disco do grupo não teria nome e que cada um dos integrantes deveria escolher apenas um símbolo qualquer (cada qual com seu significado) para representá-lo. Por isso mesmo, ele também é chamado muitas vezes de Four Symbols (Quatro Símbolos) ou The Runes (As Runas), ainda que apenas dois dos símbolos sejam realmente runas, que nada mais são do que letras utilizadas para a escrita de línguas germânicas do norte da Europa entre os séculos 2 e 11.

Sobre a capa, esta se refere a uma pintura a óleo que Page encontrou na cidade de Reading, na Inglaterra, e é interpretada de várias maneiras, mas, segundo ele próprio, a imagem de um velho camponês, não aguentando o peso dos galhos que está levando, teria a intenção de mostrar que as pessoas deveriam plantar e cuidar melhor da Terra, ao invés de colher em excesso e destruir o planeta.

Quanto ao álbum em si, a banda começou a gravá-lo em dezembro de 1970 e usou vários estúdios no Reino Unido e nos Estados Unidos. Formado por oito canções, tem entre seus destaques, além da clássica “Stairway to Heaven”, as não menos bem-sucedidas “Rock and Roll”, “Misty Mountain Hop”, “Going to California” e a já mencionada “Black Dog”.

No caso de “Stairway to Heaven”, apesar de esta nunca ter sido lançada como single, tornou-se a canção de maior sucesso do ano de 1971 e, em dois meses, o disco alcançou o status de mais vendido do ano em questão. Hoje em dia, mais de vinte e três milhões de cópias já foram comercializadas só nos Estados Unidos, além de ter alcançado o montante de cerca de quarenta milhões de exemplares em todo o globo, sendo assim, um dos álbuns mais populares de toda a história.

Vida que segue

Após os álbuns lançados em 1971, as três bandas continuaram desfrutando de carreiras muito bem-sucedidas.

Os Rolling Stones continuam na ativa até os dias atuais, ostentando o título de grupo musical mais antigo ainda em atividade, com 58 anos de atuação (desde 1962). Após “Sticky Fingers”, Mick Taylor ficaria com a banda até 1974, quando a deixaria após desavenças de cunho criativo com Mick Jagger e Keith Richards. Após a sua partida, Ron Wood assumiria temporariamente o seu lugar e, algum tempo depois, definitivamente, uma das guitarras da banda. O baixista Bill Wyman, por sua vez, sairia do grupo em 1993, alegando razões pessoais.

Após “Who’s Next”, o Who continuaria com sua formação original até a morte do baterista Keith Moon por uma overdose acidental de remédios, em 1978. Kenney Jones entraria em seu lugar e lançaria dois álbuns com a banda, permanecendo até a sua dissolução oficial, em 1983. O grupo se reuniu várias vezes ao longo dos anos (com a eventual presença de Jones), antes e depois da morte de John Entwistle, devido a um ataque cardíaco, em 2002, inclusive, gravando mais dois álbuns neste período. Roger Daltrey e Pete Townshend ainda fazem shows, incluindo, em 2017, uma passagem pelo Brasil, durante o Rock in Rio VII.

O Led Zeppelin pós-“Led Zeppelin IV” gravou mais quatro discos e seguiu com sua formação original (e única) até a morte do baterista John Bonham, em 1980, devido a uma overdose acidental por ingestão excessiva de álcool. A banda se reuniria ainda, eventualmente, em ocasiões bastante específicas, como no “Live Aid”, em 1985, histórico concerto beneficente para arrecadar fundos visando aliviar a grande crise alimentícia ocorrida na Etiópia naquele período e, em 2007, na O2 Arena, em Londres, em homenagem a Ahmet Ertegün, fundador da Atlantic Records.

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