Afrofuturismo

por | 31 mar, 2020 | 0 Comentários

Entenda a tendência que une elementos da estética ancestral africana ao futurismo.

Uma viagem ao futuro, com elementos hi-tech, mas ao mesmo tempo com toques de ancestralidade. Assim podemos entender o afrofuturismo, movimento estético, social e cultural que combina elementos da ficção científica com história, fantasia e temáticas africanas com o objetivo de retratar os dilemas negros e, ainda, interrogar eventos históricos relacionados ao racismo global.

Um pouco complexo no primeiro contato, o movimento trabalha para o resgate da história, ao mesmo tempo que adiciona camadas de inovação centradas nas origens africanas. É também um exercício de imaginação carregado de simbologias estéticas, mas mais do que isso, extrapola a linha da fantasia e se consolida de modo palpável aos olhos do público.

Kênia Freitas, curadora da mostra “Afrofuturismo: cinema e música em uma diáspora intergaláctica”, que aconteceu em São Paulo anos atrás, explica que o afrofuturismo é amplo e abrangente e engloba música, quadrinhos, cinema, moda, artes plásticas e literatura. Atualmente, sua estética é visível, por exemplo, nos clipes futuristas da cantora Janelle Monáe, nas canções de Erykah Badu e Outkast e, ainda, nas telas do artista plástico Jean-Michel Basquiat, que carregam referências de um passado ancestral com toques contemporâneos. Para Kênia, o afrofuturismo “é um movimento que abrange diversas narrativas de ficção especulativa – aquela que se propõe a especular sobre o futuro e o passado –, sempre da perspectiva negra”.

Ironicamente, o termo “afrofuturismo” foi usado pela primeira vez por um homem branco, o teórico e crítico cultural Mark Dery, em seu ensaio Black to the future (1994). No texto, porém, Dery questiona a ausência de autores negros na literatura de ficção científica nos Estados Unidos – e, ao mesmo tempo, data o nascimento da estética que chamou de “afrofuturista” entre os anos 1960 e 1970, nas notas musicais do jazzista Sun Ra, nas palavras da escritora Octavia Butler (a primeira mulher negra a ganhar notoriedade no gênero da ficção científica) e, ainda, nos quadrinhos do Pantera negra, publicados pela primeira vez em 1966 pela Marvel Comics.

Pantera Negra, filme que venceu Oscar 2019 de melhor figurino, melhor direção de arte e melhor trilha sonora, e foi um dos indicados a categoria de melhor filme, é muito mais que apenas um “filme de super-herói”. A produção da Marvel, lançada em 2018, é um autêntico representante do afrofuturismo e trouxe o assunto à tona ao abordar cultura africana e embates sociais com as aparências da ficção científica no mainstream.

O filme Pantera Negra é o exemplo mais atual e relevante do afrofuturismo do século XXI. Misturando fantasia, tecnologia e ciência com questões raciais, sociais, políticas e econômicas, ele tem o negro o ponto central da trama. E Pantera Negra vai além de simplesmente ser uma obra de entretenimento com uma estética afrofuturista: o filme proporciona reflexões válidas para a sociedade atual, que ainda tem o racismo e a segregação racial como pauta.

QUEM ESTÁ PRODUZINDO

Erykah Badu, Solange Knowles e Janelle Monáe são algumas das artistas gringas que, de alguma forma, sempre se colocaram à frente de seu tempo, popularizando as influências afrofuturistas a partir de como se colocam diante de suas carreiras, dos looks às vertentes ideológicas e videoclipes, sempre carregadas pela valorização do que pertence ao povo negro. No Estados Unidos, a bandeira recentemente foi ainda mais erguida pelo Afropunk, um festival de música alternativa, marcado por inúmeras nuances afrofuturistas e cyberpunks, que ganhou proporções globais, mesmo sem nunca cruzar o oceano

NO BRASIL

Em terras brasileiras, o movimento segue tímido, mas ativo e com bastante potencial pela frente. No cinema, o filme “Branco Sai, Preto Fica” (2015), de Adirley Queirós, já se tornou um clássico nacional nestes termos – está disponível na Netflix. Na literatura, o escritor Fábio Kabral trouxe ao mundo o livro “O Caçador Cibernético da Rua Treze”, história de futuro distópico, protagonizada por um caçador negro, que imagina uma tecnologia movida a entidades espirituais, ressaltando a mitologia africana. Há também Ale Santos, que foca suas energias em pesquisas e escrita de histórias africanas através do perfil @Savagefiction, no Twitter

Na música, exemplos como Carlinhos Brown, Ellen Oléria, Rico Dalasam, Karol Conká, Xênia França, Baco Exu do Blues, Jonathan Ferr, Caio Nunez e As Bahias e A Cozinha Mineira, Doralyce e Larissa Luz bebem dessa fonte.

Com o anúncio de uma edição brasileira do icônico Afropunk Festival, confirmado para acontecer em Salvador em 2020, o afrofuturismo ganha ainda mais evidência por aqui. Vamos acompanhar!

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