Agro Inspiração Feminina

por | 11 abr, 2022 | 0 Comentários

CADA DIA MAIS AS MULHERES TÊM AJUDADO NA TRANSFORMAÇÃO DO AGRO, DENTRE ELAS, ARETUZA NEGRI, DE PIRACICABA, FIGURA ENTRE AS 100 MULHERES MAIS INFLUENTES DO AGRO DA REVISTA FORBES

Se antes o agronegócio era visto como um setor predominantemente masculino, agora, cada dia mais, as mulheres estão sendo protagonistas, conquistando seu espaço e fazendo toda a diferença nesse potente mercado brasileiro.
Segundo o Censo Agropecuário de 2017, quase 1 milhão de mulheres administram propriedades rurais no Brasil. Isso significa que cerca de 30 milhões de hectares são geridos por elas, ou seja, 8,4% de todos os lotes rurais nacionais são gerenciados por mãos femininas.
Antes as mulheres que moravam na zona rural eram consideradas como ‘do lar’, mesmo que desempenhassem
papéis extremamente estratégicos dentro das fazendas.
O estudo que apresenta esses dados foi realizado pelo Programa Agro Mais Mulher, do Governo Federal, em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Outro fato relevante é que as mulheres agricultoras também têm voltado suas atenções para aumentar seu nível acadêmico. O número de mulheres com ensino médio e superior atuando na área tem subido, enquanto a quantidade de mulheres com menos instrução vem caindo, de acordo com números da pesquisa “Mulheres no Agronegócio” do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea). Tratando-se apenas de mulheres com ensino superior, elas eram 7,6% das trabalhadoras do campo em 2004. Em 2015 a percentagem dobrou, pois as mulheres com formação mais alta representam agora 15%.
Esses dados de uma melhor qualificação podem ser confirmados dentro de importantes instituições de ensino como, por exemplo, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em Piracicaba. No ano de 2021, 41% das ingressantes nos diversos cursos da instituição são do sexo feminino. Vale aqui relembrar que a primeira mulher a graduar-se agrônoma na Esalq foi Veridiana Victoria Rossetti, em 1937 e passados mais de 80 anos as mulheres têm cada vez mais assumido parte do setor.

VEJO QUE MUITAS MULHERES AINDA NÃO SE ENXERGAM COMO UMA MULHER DO AGRO. O SETOR É MULTIDISCIPLINAR, ELE ABRE UM LEQUE DIVERSIFICADO DE PROFISSÕES


ELA É DO AGRO
Uma das mulheres que não necessariamente está presente diretamente no campo, mas desempenha um papel importante na comunicação do setor, é Aretuza Negri, 35 anos, que figura entre as 100 mulheres mais poderosas do
agro da revista Forbes. Na lista, a revista procurou selecionar representantes do movimento de mudança no campo,
mesmo que o trabalho seja realizado a partir das cidades.
Essas mulheres se destacam em diferentes setores do agronegócio: elas estão presentes na produção de alimentos de origem vegetal e animal, na academia, na pesquisa, nas empresas, em foodtechs, em consultorias, em instituições financeiras, na política, nas entidades e nos grupos de classe e, mais do que nunca, nas redes sociais.
Aretuza é um exemplo de quem sempre vivenciou a vida no campo e hoje consegue se destacar nas mídias sociais, mostrando a força do setor. “Vejo que muitas mulheres ainda não se enxergam como uma mulher do agro. O setor é multidisciplinar, ele abre um leque diversificado de profissões”, conta.
Aretuza destaca que ainda existe preconceito sobre a presença feminina no agro, mas que nos últimos 10 anos, tem avançado e a cada dia mais mulheres têm assumido não só a liderança dentro da porteira quanto fora. “As mulheres sempre atuaram no agronegócio, mas agora elas estão mostrando mais seu papel no setor e essa diversidade dentro do agro é muito importante e tem enriquecido muito o espaço”, diz.
Nascida no interior do Mato Grosso do Sul, Aretuza mora em Piracicaba e mergulhou de cabeça no universo agro por inspiração do pai. Ela é filha de um engenheiro agrônomo que se formou na ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), em Piracicaba, e fez carreira na indústria da cana-de-açúcar. Tanto amor por esse universo acabou levando Aretuza a fazer MBA em Agronegócio pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP). “O universo rural sempre fez parte da minha vida. Brinco que nasci em uma usina de cana-de-açúcar. Desde pequena me interessava em saber mais do setor e sempre enxerguei a potência que representa para o Brasil”, conta.
Frequentadora assídua de feiras e eventos na área rural, em 2017, ela decidiu criar um perfil no Instagram chamado “Ela é do Agro” (@elaedoagro). No começo não tinha pretensão de tornar o canal um negócio, mas um espaço de troca de informações e network. “Acredito que o agro na vida das pessoas é um chamado e eu senti que esse era o meu propósito. Apesar de ter trilhado por outros caminhos antes, pois minha primeira formação foi em serviço social, sempre me interessei pelo mundo de agronegócios. Vi nas mídias sociais uma forma de ficar mais perto desse universo que sou apaixonada e que sempre fez parte da minha vida”, diz.
Como sempre divulgava e participava de feiras, o @elaedoagro acabou também se tornando uma referência em eventos que ocorrem por todo o país nessa área. Dentre as principais feiras, Aretuza destaca a Agrishow, que frequenta desde os seis anos. Em 2019 ela foi eleita como embaixadora digital da Agrishow, que é considerada a maior feira rural da América Latina.
Aretuza também está sempre em eventos importantes para o setor que valorizam não só a mulher como os jovens. Entre eles, ela cita o Congresso das Mulheres do Agro, que traz discussões práticas da cadeia do agro; YAMI, que é voltado para a nova geração do agro e também eleita uma das embaixadoras; e a Agro Bit Brasil, que é voltado para a tecnologia do setor.

“Vejo que cada dia mais as mulheres estão ganhando mais espaço dentro do mundo agro e isso reforça que estou no caminho certo ajudando a comunicar essa potência no Brasil”, diz.
Aretuza conta que conhece muitas mulheres que participam de todos os processos de gestão da propriedade, mas ainda não ocuparam seu lugar no universo do agronegócio. Outras abraçam o mesmo pensamento por não colocarem diretamente as mãos na terra. “Eu sou uma mulher do agro que não ponho a mão na terra, porque, dentro do agro, existem muitas funções, com um setor extremamente multidisciplinar, seja como gestora, pesquisadoras na área da tecnologia. Sinto que falta o pertencimento da mulher do agro e acredito que meu papel é mostrar parte disso”, diz.

Aretuza Negri e Cristiane Teixeira (CEO da Revista Trinova), em making of da
sessão de fotos realizada para a capa desta edição.

NOVOS OLHARES E APRENDIZADOS NA PANDEMIA
Em 2020, ano que o mundo parou por conta da pandemia do coronavírus, Aretuza acabou aprendendo um novo jeito de mostrar a força do setor. “O agro não parou e o setor teve que adaptar os eventos presenciais para o on-line. Crescemos e aprendemos muito juntos nessa área também e, de novo, a comunicação acabou sendo fundamental”, lembra.
Aretuza conta que hoje os produtores rurais estão cada vez mais adeptos à tecnologia e tem crescido o número de jovens no campo, que precisam se comunicar cada vez melhor. Ela lembra ainda que se antes o conhecimento ficava restrito para dentro da porteira, hoje a comunicação pelas mídias sociais ajuda a levar conhecimento da porteira para fora.
Aretuza afirma que tem consciência de que os desafios de comunicar o agro são grandes, mas quanto mais as pessoas entenderem sobre esse mercado, mais valorizado o setor será. “Meu desafio é sempre estudar para trazer uma nova perspectiva sobre os dados e as informações do campo para a população a partir de fontes sérias e confiáveis”, diz.
Aos poucos os eventos presenciais estão retornando e Aretuza segue firme na rotina de buscar entender e cada vez mais ajudar as pessoas olharem a força e potência do setor, afinal, ela é do agro!
E vale destacar que as mulheres do agro têm ainda um longo caminho a percorrer, mas como bem lembra a escritora Cora Coralina: “Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores.” E no caso das mulheres do agro isso vale para flores, soja, arroz, feijão, pecuária e tantos outros frutos que a terra e a vida nos dá.

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