Hoje psicóloga, Edith Eva Eger tem até militares da guerra como pacientes e é autora de best-seller.
Edith Eva Eger sentiu logo aos 16 anos as dores de viver na Europa Ocidental por ser de família judia em plena Segunda Guerra Mundial. Em 1944, soldados invadiram o vilarejo em que morava, na Hungria. Ela, os pais e a irmã foram levados ao campo de concentração de Auschwitz, e o pai e a mãe assassinados na câmara de gás. A bailarina Edith foi encontrada se mexendo numa pilha de pessoas dadas como mortas, vítimas do Holocausto. Hoje, aos 92 anos, é exemplo de braveza e narra, no best-seller A Bailarina de Auschwitz, suas experiências e a superação de um dos mais letais períodos da História.
O namorado e os avós dela também morreram na guerra, e a irmã sobreviveu. A escritora e psicóloga relaciona o início de sua luta pela vida à última conversa que teve com a mãe, no caminho de Auschwitz.
“Minha mãe me abraçou e disse ‘não sabemos para onde vamos nem o que vai acontecer, mas lembre-se que ninguém pode tirar o que puseres em sua cabeça’”, lembra Edith, na conferência “O que minha mãe me disse”, da TEDx Talks.
O Holocausto foi o genocídio de cerca de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Uma das vítimas é Anne Frank, a adolescente autora do diário mais famoso do mundo.
Em recente entrevista concedida ao Estadão, Edith defendeu que não importa a gravidade de um fato e o que esteja acontecendo, mas, sim, a maneira como as coisas são vistas e enfrentadas para a redenção e a cura.
“Não há problemas, há desafios. E não há falhas, há apenas transições”.
Considerada a “Anne Frank que não morreu”, a psicóloga enfrentou por muito tempo os sintomas de estresse pós-traumático. Depois de ter saído da guerra, em 1945, conheceu o homem com quem se casou e foi morar nos Estados Unidos, onde vive em um vilarejo na Califórnia chamado Paradise – paraíso, traduzido para o português.
Com 42 anos, a sobrevivente do Holocausto concluiu o curso de psicologia na Universidade do Texas em El Paso. Doutora em psicologia, Edith aplica, durante as sessões de terapia, o que aprendeu nos campos de concentração. Entre os pacientes, veteranos de guerra e vítimas de traumas físicos e psicológicos, inclusive militares da mesma infantaria que a libertou do campo de concentração, em 1945.
Apenas aos 50 anos Edith começou um longo processo de cura, de acordo com a biografia da autora disponível no site da editora Sextante. Ela chegou a enfrentar a culpa de ter sido uma sobrevivente em meio a tantos mortos do Holocausto e só conseguiu voltar a ser feliz e a ter compaixão após voltar Auschwitz.
E apesar de todo o sofrimento, abomina a vingança. Por onde passa, dá uma aula: o perdão sempre será libertador inclusive para que manter a juventude do corpo e da mente. É assim que vive a bailarina, dia após dia, carregando um semblante inspirador e que revela sua leveza interior.
ETERNA BAILARINA
Dona de uma mente saudável, hoje mãe, avó, e bisavó, Edith é lúcida também de corpo. Guarda na memória e arrisca nos movimentos os passos de bailarina, dança que praticou até os 16 anos.
Já no campo de concentração, teve que dançar para o médico Josef Mengele, o “Anjo da Morte” de Auschwitz. A performance: dar piruetas durante o som da valsa Danúbio Azul.
“Eu era uma boa ginasta. Já tinha dançado para o presidente da Hungria, o almirante Horsty. De novo, mantinha a cabeça fria e podia controlar tudo. Mengele deu em troca um pedaço de pão, que eu dividi com minhas amigas”, relembra a autora, na palestra do TEDx.
AS VOLTAS DO MUNDO
Em Auschwitz, os dias que pareciam não acabar se misturavam à incerteza de como seria o próximo nascer do sol. Durante o tempo em que viveu no campo de concentração, a bailarina começou a ver as coisas de uma nova maneira, sempre trabalhando a mente para manter-se viva.
“Dizia para mim ‘se sobreviver hoje, amanhã estarei livre’. Amanhã, amanhã, sempre a olhar em frente. Em vez de dizer ‘por quê?’, aprendi a dizer ‘e agora’, e a seguir’. Tinha uma enorme curiosidade que era tão poderosa que consegui prosseguir um dia de cada vez”, lembra Edith.
Além do exercício do autoconhecimento, a psicóloga reforça que a cooperação também foi um jogo para a sobrevivência ao Holocausto. Quando se tornou operária escrava num sítio, enfrentou a marcha da morte: os operários levavam tiros se parassem de trabalhar por um instante. Foi o que aconteceu com a bailarina, e as amigas com quem dividiu o pão formaram uma “cadeira” com os braços e a transportaram de lá para evitar a morte.
LIÇÕES EM UM BEST-SELLER
No livro A Bailarina de Auschwitz, a sobrevivente do Holocausto conta suas experiências no campo de concentração, a superação de traumas e faz uma reflexão de como o período despertou seu autoconhecimento e o novo jeito de viver a vida. São páginas que transbordam a sabedoria, o que tanto a psicóloga diz ser uma das maiores riquezas do ser humano.
Ter amor próprio e ser realista, mas não idealista, também são peças-chave para o quebra-cabeça que é a vida. Essas atitudes são exploradas na obra da bailarina como formas de melhorar a inteligência emocional.
— A Bailarina de Auschwitz está no topo de leituras sugeridas por Bill Gates, o fundador da Microsoft. No Brasil, o best-seller foi lançado em março de 2019, e um segundo livro de Edith deve estar à venda nos próximos meses. É O Presente, que apresenta experiências conceituais do trabalho da autora.
Nas páginas, a bailarina também argumenta que escolhas conscientes e o exercício do deixar de ser vítima são fundamentais para as cicatrizes emocionais serem apenas uma experiência, e não permanentes.
As vivências de Edith e sua forma de lidar com os traumas renderam a participação dela em programas de TV da rede de notícias CNN e o famoso talk show The Oprah Winfrey Show. Autora de mais livros, como uma autobiografia publicada em 2017, a psicóloga também foi a protagonista de um documentário sobre o Holocausto, exibido na Holanda, e dá palestras em todo o mundo, inspirando pessoas e levando um exemplo da vida real de que qualquer medo pode ser superado.
Estou encantada com essa mulher valente que venceu todas as torturas
Com dignidade. Minha admiração!!!
Muito maravilhosa! Acabei de conhecê-la através da entrevista com o Bial na Globo e estou simplesmente encantada 🥰🥰🥰♥️
Edith é inspiradora. Gosto demais de sua forma de pensar. A leitura de seus livros me fez um bem enorme e me produziu reflexões realmente importantes. Recomendo.