AS ENTRELINHAS DO AUTISMO

por | 14 abr, 2023 | 0 Comentários

Pelo menos uma em cada 36 crianças é autista e é importante conscientizar a sociedade sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), que é muito mais comum do que se possa imaginar.

Michelly Basso é fonoaudióloga especializada em neurodesenvolvimento infantil, mãe do Davi, de 9 anos, e da primogênita Maria Fernanda, de 11 anos. “Passei a estudar especificamente o Transtorno do Espectro Autista (TEA) em 2012, quando conheci a abordagem da ‘Inspirados pelo Autismo’. Na época, eu já era mãe da Maria Fernanda, mas não imaginava que poderia, um dia, fazer parte do universo da maternidade atípica”, conta.
Em 2013, quando Davi nasceu, Michelly percebeu que ele apresentava algumas discretas manifestações do TEA. “Na época, mesmo já estudando o tema, tive dificuldades em validar minhas percepções. Eu sabia que ele era diferente dos bebês típicos com quem eu convivia”, conta.


Pouco antes do Davi completar um ano, Michelly percebeu que ele tinha um desenvolvimento atípico e que provavelmente era autista, mas o diagnóstico só foi confirmado mais tarde. “Na época, eu atendia como fonoaudióloga na clínica do meu marido. Mas diante das demandas do Davi, resolvi fechar o consultório e mergulhar profundamente no estudo e na investigação do que era o TEA. Foram dois anos sem trabalhar, de estudo muito intenso. Diversos cursos, congressos, formações, workshops e supervisões. Sigo estudando e faço pós-graduação em neurociências. Passei a entender o que se passava com meu filho e continuei buscando os melhores recursos para ajudá-lo e também ajudar outras pessoas”, diz.


Michelly sempre acompanhou o filho em todas suas terapias. “Nessa fase longe do consultório, passei a ter verdadeiro ’horror’ de sala de espera. Comecei a sonhar com um espaço que atendesse não somente as demandas das crianças autistas, mas também dos cuidadores”, conta. Foi aí que, em 2014, ela abriu o Espaço Inspiração em Piracicaba, junto à sócia Marilene Storoli.
Ela conta que rapidamente a demanda cresceu e logo não tinha mais disponibilidade de horários. “Percebi então que para multiplicar o conhecimento e alcançar mais pais e profissionais, era preciso um novo formato. Foi dessa demanda que nasceu o Maná Mentoria, uma empresa que oferece supervisões de caso a profissionais, consultoria e treinamento a escolas, instituições, hotéis, buffets infantis, igrejas e comércio em geral. Além de capacitação, orientações e acolhimento às famílias”, diz.
Para ela, o TEA escancara à sociedade a necessidade de adaptação à diversidade humana. “O respeito precisa ser exercido em qualquer ambiente, em todas as relações, independente de suas condições físicas, mentais, emocionais ou de idade, raça, religião, escolhas políticas. A riqueza do ser humano está na sua individualidade e no que ele pode oferecer de único”, diz.
Mas, ela completa que para que haja oportunidade de convivência é preciso que ocorra a dissolução da principal barreira de acessibilidade, que é a barreira atitudinal (imposta ou dissolvida pelas pessoas). “Proponha-se a conviver com uma pessoa autista e descubra a riqueza de uma mente neurodivergente”, diz.

2 de abril – Dia Mundial da Conscientização do Autismo
O dia 2 de abril foi definido como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, uma data voltada para elucidar a sociedade sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), que é muito mais comum do que se possa imaginar.
O autismo pode se apresentar em diferentes níveis, mas se caracteriza pelo “desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades”, segundo o Ministério da Saúde.
Atualmente, o autismo está descrito pela comunidade médica como o Transtorno do Espectro Autista. O TEA é um transtorno neurológico que pode apresentar-se de formas variáveis, com diferentes nuances. Isso faz com que cada pessoa autista tenha diferentes níveis de suportes, de acordo com sua capacidade de autonomia.
“Dizemos que o ‘autismo não tem cara’, pois não existe um fenótipo (aparência física) característico. Dessa forma é um tipo de deficiência invisível, pois é impossível detectar o TEA analisando características morfológicas (constituição da aparência)”, conta Michele.


Tema tem ganhado espaço em séries e filmes
Uma das séries mais assistidas na Netflix em 2022, Uma Advogada Extraordinária, acompanha a vida da protagonista Woo Young Woo, interpretada pela atriz Park Eun-bin, que faz o papel de uma jovem de 27 anos formada em direito e que foi diagnosticada ainda na infância com autismo. Na série ela termina a faculdade como a melhor aluna da Universidade Estadual de Seoul e acaba sendo contratada por um dos maiores escritórios de advocacia da região.
Young Woo só falou pela primeira vez aos 5 anos e possui memória avançada e alta capacidade de raciocínio, descrito na série como memória fotográfica e como alto QI. Por outro lado, tem grande dificuldade de relações sociais e não entende muito bem as emoções. A personagem tem uma ligação forte com baleias, o que mostra a fixação por alguns interesses restritos, que também é um dos aspectos do TEA – o chamado hiperfoco.
Outro ponto da série é a questão da rotina. Alguns autistas têm grande dificuldade de alterá-la. A protagonista pede ao pai todos os dias para preparar a mesma refeição no seu café da manhã, o Kimbap.
Uma Advogada Extraordinária, que vai ganhar uma segunda temporada em 2024 é um bom exemplo para quem deseja conhecer algumas características que podem fazer parte da rotina de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Graças aos estudos e avanços científicos cada vez mais pessoas têm recebido diagnóstico precoce de TEA. Segundo o CDC (Center of Deseases Control and Prevention), órgão do governo dos Estados Unidos: 1 em cada 36 crianças é autista. De acordo com a OMS, estima-se que dentre 200 milhões de habitantes brasileiros, cerca de 2 milhões são autistas.

Conheça alguns famosos com TEA

O ator britânico Anthony Hopkins, só descobriu que era autista aos 70 anos. Ele foi vencedor do Oscar de Melhor Ator no filme O Silêncio dos Inocentes e acumula papéis relevantes no cinema.


O filho do apresentador Marcos Mion, Romeo, é autista e o comunicador sempre compartilha desafios e conquistas do adolescente.

A cantora, compositora e atriz norte-americana Courtney Love, conhecida por sua banda Hole e muito lembrada por ter sido a esposa de Kurt Cobain, é portadora do Transtorno do Espectro Autista. Diagnosticada com autismo ainda na infância, aos 9 anos, ela decidiu revelar o transtorno para os fãs aos 33 anos, em sua autobiografia “The Real Story”, lançada em 1997.

Conhecida internacionalmente, a modelo dinamarquesa Nina Marker é outra famosa que convive com a Síndrome de Asperger. Diagnosticada aos 15 anos, ela usa sua posição como modelo para falar sobre como é possível conquistar seus sonhos e objetivos mesmo com algumas limitações.


Temple Grandin é psicóloga e zootecnista e ficou muito conhecida por revolucionar a forma de manejo dos animais em abatedouros. Ela foi diagnosticada com autismo de alta funcionalidade e em sua infância tinha muitos problemas de sociabilidade com outras crianças, por ser um pouco agressiva. Sua história virou filme biográfico.

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