Do ateliê à galeria da artista contemporânea sustentável.
O ateliê da artista plástica Bia Doria é um universo à parte da selva de pedra que é São Paulo. Um corredor repleto de plantas recepciona os visitantes, já entregando a principal inspiração da artista: a natureza. Vestindo t-shirt e tênis confortáveis, a primeira-dama do Estado finalizava uma escultura de madeira que tinha o dobro do seu tamanho quando a Trinova chegou ao ateliê. A primeira impressão que a equipe teve dela foi comprovada ao longo da conversa: Bia respira arte e a paixão que tem por suas obras é nítida em sua fala e nos cuidados com cada detalhe.
Bia se autodenomina uma representante da arte contemporânea sustentável. “Nasci no mato, meu DNA está na floresta”, diz Bia ao explicar sua forte ligação com a natureza. Nascida em Pinhalzinho, região de Santa Catarina dominada pelas matas de araucárias, sua veia artística pulsou ainda na infância. Durante as colheitas de uva das plantações da família de imigrantes italianos, Bia pintava os caules das videiras com a casca da uva madura para formar um jardim de esculturas vivas.
Uma carreira curiosa foi traçada antes das artes plásticas: Bia se formou em educação física, foi estilista e designer de joias. Como nada é por acaso, foi na confecção de colares e pulseiras que ela descobriu a madeira de fundo de rio cuja solidez se assemelhava à das rochas. Nos tocos calcinados pela água enxergou corais e assim nascia a artista e também a sua primeira série, “Fundo de Rio”.
Sua série de esculturas mais conhecida, as “Bailarinas da Natureza”, feita com restos retorcidos dos cedrinhos usados em reflorestamento, chamou a atenção do escultor polonês radicado no Brasil Frans Krajcberg, que a chamou para ser uma espécie de aluna. Krajcberg faleceu em 2017, deixando com Bia a sucessão do seu legado artístico ambientalista.
Bia Doria trabalha com resíduos de manejo florestal, árvores nativas resgatadas de queimadas, desmatamentos, fundo de rios e barragens. Ela percorre o Brasil recuperando materiais para trabalhar. Em seu ateliê, ela nos mostra alguns passos dos diversos processos que uma obra passa até chegar à sua galeria, exposições ou decoração de espaços. Para as esculturas de parede da série “Florações”, por exemplo, Bia trouxe os materiais de florestas fechadas e os cuidados especiais vão desde a higienização para tirar os fungos até métodos para sua preservação.
Outra questão para Bia é respeitar as formas da natureza em suas criações. Em “Florações”, as flores são o próprio formato da madeira pigmentada.
“Na arte não gosto de flores perfeitas, prefiro as formas desconstruídas, uma flora subjetiva”, explica.
Bia cria e recria suas obras não só com a estética, mas também com engajamento ecológico, mostrando através de sua arte a preocupação com o meio ambiente e, sobretudo, alertando sobre os desastres ocorridos no Brasil e no mundo.
Galeria
Localizada no bairro Jardins, em São Paulo, a galeria de Bia Doria transmite uma atmosfera de paz. Logo na entrada, enormes esculturas vermelhas materializam a linha tênue onde a arte dela se encontra: entre a força e a delicadeza.
No meio do caminho entre o orgânico e o simbólico, o figurativo e o abstrato, suas esculturas são inovadoras e trazem à cena o delicado equilíbrio entre o peso da destruição das florestas brasileiras e a leveza dos movimentos naturais de cada peça.
Ascensão
Em 17 anos de carreira, Bia tem em seu currículo várias exposições realizadas pelo Brasil e em outros países como Estados Unidos, França, Alemanha e Itália, onde ganhou o prêmio em esculturas na 10ª Bienal de Florença 2015 e Tivoli – Scuderie Estensi – Roma, em 2016.
Em sua última exposição em Milão, em janeiro deste ano, Bia foi notada por Domenico Dolcce, um dos fundadores da Dolce & Gabbana. O estilista se encantou com as enormes esculturas em madeira e fez um ensaio com modelos vestindo roupas da nova coleção da grife em meio às obras, provando a harmonia estética e social da moda com a arte.
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