Catarinense está há 5 anos sem produzir lixo e dá dicas para quem quer fazer o mesmo

por | 30 mar, 2020 | 0 Comentários

Movimento lixo zero.

Os brasileiros estão gerando mais resíduos, mais municípios enviam lixo para lixões, e a coleta seletiva não avança. Os dados divulgados pelo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil são desesperadores. Mas, afinal, é possível viver sem produzir lixo? A designer catarinense Cristal Muniz prova que sim. Há quatro anos ela decidiu parar de gerar lixo e desde então compartilha na internet suas alternativas sem lixo e sem depender da indústria de produtos de todas as coisas presentes na vida urbana.

Viver sem utilizar qualquer coisa que tenha o aterro sanitário como destino inclui fazer seus próprios itens de beleza, higiene pessoal e limpeza em casa e com produtos naturais. No blog “Uma vida sem lixo”, Cristal dá dicas para gerar menos lixo dentro e fora de casa. Além disso, ela compartilha sua rotina sem lixo em um perfil com estética minimalista no Instagram (@umavidasemlixo) para quase 230 mil seguidores.

Percursora do movimento lixo zero no Brasil, Cristal lançou em 2018 o livro “Uma vida sem lixo: guia para reduzir o desperdício na sua casa e simplificar a vida”, onde ensina maneiras de aproveitar a casca dos alimentos na cozinha, como construir uma composteira para dar fim ao lixo orgânico, como limpar a casa usando apenas três ingredientes, como montar um guarda-roupa sustentável e outras dicas para diminuir o consumo de plástico. Confira abaixo nosso bate papo com a Cristal.

TRINOVA – Como era seu estilo de vida antes de aderir ao movimento lixo zero?

CRISTAL – Sempre tive uma vida muito saudável, natural e simples. Eu morava no interior, então a alimentação era basicamente vinda da horta da minha vó. Nunca ia ao médico, quando ficava doente tomava chá, usava babosa pra machucado e pra queimadura de pele. Minha rotina sempre foi com conhecimentos ancestrais de ervas e plantas poderosas, mas só quando entrei no movimento lixo zero é que coloquei isso num lugar de conhecimento e entendi que não era só uma suposição, tinha estudo científico e motivos pra aquilo funcionar. Além disso, a reciclagem sempre foi uma realidade na minha vida, sempre separamos lixo em casa.

TRINOVA – E o processo de adaptação para o estilo de vida sem lixo, como foi?

CRISTAL – Não foi difícil, mas claro que tive empecilhos. Fiz o processo aos poucos, fui escolhendo uma coisa de cada vez pra resolver. Comecei pela composteira e o coletor menstrual, que eram coisas que eu precisava comprar pra resolver esses dois resíduos: lixo orgânico da cozinha e absorventes descartáveis. Depois, com os cosméticos e produtos de limpeza, fui fazendo as trocas conforme as coisas iam acabando, por exemplo, quando a pasta de dente acabava, eu pesquisava pra fazer uma. As trocas de produtos industrializados por naturais para gerar menos lixo ocorreram ao longo do tempo, quando eu já estava adaptada com mudanças anteriores e à medida que os problemas iam surgindo. Respeitei meu tempo e meu momento, por isso não foi difícil.

TRINOVA – Mas nenhum tipo de lixo da sua casa vai para os aterros?

CRISTAL – Papel higiênico e lixo do banheiro não tem o que fazer, precisam ir pro aterro. Evito ao máximo produtos com embalagens, mas toda casa tem coisas que são difíceis de serem recicladas como lâmpadas, pilhas e baterias. Ainda não temos sistema de coleta de reciclagem e reaproveitamento que prevê essa circularidade de todo tipo de resíduos.

TRINOVA – O seu custo de vida diminuiu ou aumentou com a rotina sem lixo?

CRISTAL – Diminuiu, especialmente porque eu mesma faço muitos dos produtos que utilizo e a maioria são multifuncionais. Substituí todos os produtos de limpeza por um sabão liquido que faço em casa e isso diminuiu em 10 vezes meu custo com limpeza. Pensar muitas vezes antes de fazer uma compra também ajuda. Claro que algumas coisas são mais caras, mas é preciso pensar a longo prazo. Por exemplo, o coletor menstrual custa mais caro que um saco de absorventes descartáveis, mas um ano de uso do coletor já paga o que você teria gasto em descartáveis, sendo que coletor dura 10 anos. Ou seja, são nove anos de economia.

TRINOVA – E o blog Uma vida sem lixo surgiu em que momento?

CRISTAL – Decidi criar o blog no exato momento em que parei de produzir lixo. Por dois motivos: não tinha achado quase nada do assunto em português e que falasse sobre o Brasil nesse movimento, e porque queria ter um compromisso público pra que as pessoas, inclusive, me cobrassem pra eu conseguir cumprir essa meta. Eu postava todas as coisas que fazia, mesmo dando errado, e assim recebia dicas. Até hoje aprendo muito com os leitores. Não compartilho nada como verdade absoluta, o que compartilho são dicas e informações pontuais, mas não significa que é o único jeito ou o jeito certo. Nunca é a única resposta possível, foi a que eu encontrei pra mim e talvez funcione pra você.

TRINOVA – Quais suas dicas para quem quer começar a reduzir a produção de lixo?

CRISTAL – Comece de alguma forma. Pode ser costurando guardanapo de pano com resto de tecido ou carregar o kit lixo zero na bolsa pra não gastar com copo descartável, prato, talheres e canudos quando for comer fora. Algo que faz muita diferença na rotina das pessoas é olhar as coisas que você tem em casa e se comprometer a comprar novas só quando realmente precisar. Outra questão é separar o lixo entre orgânico (que pode virar adubo na composteira), lixo comum (resíduos do banheiro) e reciclável. Os próximos passos podem ser comprar alimentos a granel, usar sacolas retornáveis no mercado, comprar menos itens embalados e utilizar produtos multiuso.

O que é uma composteira?

Mais da metade do lixo que produzimos é aquele chamado de orgânico: restos e cascas de alimentos, basicamente. Quase todo esse lixo orgânico poderia ser tratado nas casas das pessoas através de um processo de compostagem, que possibilita que ele retorne, em forma de adubo, à natureza. Um dos jeitos mais comuns de fazer compostagem caseira é com a ajuda das minhocas, que comem o material orgânico e o transforma em húmus, um adubo rico em nutrientes. Uma composteira é o lugar onde vai acontecer a compostagem. É onde se coloca o material orgânico e, dependendo do tipo de composteira, a decomposição vai acontecer com ajuda do calor, das minhocas ou outra coisa (existem vários tipos).

Como fazer uma composteira em casa ou no quintal

1 – Faça um buraco na terra, de cerca de pelo menos 0,5 m².

2 – Coloque o material orgânico e não espalhe muito. Vá concentrando em um canto até tudo encher. Sempre cubra muito bem com folhas secas ou serragem (é esse o segredo para o cheiro ruim não aparecer).

3 – Regue de vez em quando se fizer muito calor e sol. A cada 15 dias dê uma revirada em todo material, pra ajudar a aerar e facilitar a decomposição.

4 – Aos poucos as sobras de alimento vão se transformar em uma terra bem escura, com cheiro de terra molhada. Esse adubo é maravilhoso para as plantas!

Como fazer uma composteira em apartamento com baldes

1 – Escolha três baldes ou caixas plásticas que tenham algum tipo de encaixe entre si. As caixas ou os baldes precisam ser opacos porque as minhocas não gostam de luz.

2 – Fure o fundo de dois dos três baldinhos com uma furadeira, com cerca de 0,5 a 1cm de diâmetro. Faça muitos furos, com cerca de 2 a 3cm de distância entre eles. É por esses furinhos que o líquido da composteira vai escorrer e as minhocas vão mudar de andar.

3 – Você pode deixar sua composteira mais profissional se conseguir colocar uma torneirinha no último andar.

4 – Para usar, você precisa de algumas minhocas. Não precisam ser muitas porque elas se reproduzem conforme a necessidade. O ideal são as minhocas californianas, que não pulam igual as brasileiras, são maiores e comem os restos de alimentos mais rápido. Coloque uma camada de terra suficiente pra cobrir o fundo do balde e as minhocas.

 

Leia mais

Comentários

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.