Em tempos de transformações rápidas, na área da saúde, são bem-vindas novas tendências tecnológicas como cirurgia robótica, terapia gênica, imunoterapia, transplantes de microbioma, entre outras. Mas serão suficientes?
Grandes esforços para avanços tímidos, quando falamos em mudar a realidade das doenças da vida contemporânea – as doenças cardiovasculares e o câncer.
A saúde precisa de uma solução disruptiva. Tecnologias inovadoras como Inteligência artificia, Internet of Things e Machine Learning permitem o tratamento de dados (Big Data), conduzindo a um diagnóstico populacional e possibilitando intervenções precisas na jornada do paciente.
A grande limitação para esta inovação necessária não é a tecnologia. É a cultura.
Crenças que postergam a potencialidade de disrupção.
Informação e comunicação.
Para conquistarmos a saúde da população, como um organismo, é necessário dissecar padrões de comportamento na linha do tempo, dentro das variações pessoais, culturais e demográficas. Com a informação fragmentada nas diversas instâncias de abordagem do paciente (atenção básica, média complexidade e hospitais de alta complexidade) é praticamente impossível o mapeamento deste padrão. Esta fragmentação se dá por dispormos de ilhas de excelência em tratamentos que não “conversam” entre si, não permitindo o compartilhamento, ainda que a tecnologia viabilize a criação deste banco único de dados. Na prática, por não dispormos desta integração, temos que nos submeter a peregrinações exaustivas em diferentes hospitais, diagnósticos discrepantes e condutas divergentes. Sem contar a redundância de exames e procedimentos, recursos financeiros desperdiçados e retrabalho. E o mais importante, gerando desgaste e sofrimento para o paciente.
A ferramenta disruptiva que a saúde precisa passa por uma tecnologia que integre a informação, que a deixe disponível e acessível tanto para o paciente quanto para os profissionais da saúde. Os algoritmos constroem a estratificação de risco e a otimização da rastreabilidade das doenças crônicas.
O protagonismo desta inversão de responsabilidade sobre dados (e para isso temos a Lei de proteção de dados) é do cidadão, que se apodera da possibilidade de ser devidamente conduzido.
Estamos diante de uma proposta de inversão do modelo vigente, onde o paciente toma posse de seu lugar no “coração” do sistema de saúde, a começar pela responsabilidade de seus dados e, portanto, da chance de fazer melhores escolhas diante da conscientização acerca de seus fatores de risco.
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Adriana Brasil é médica cirurgiã de cabeça e pescoço, e fundadora da Fundação Ilumina.
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