ATUALMENTE, 90% DA NUTRIÇÃO HUMANA ADVÉM DE APENAS QUINZE ESPÉCIES DE PLANTAS
Oplaneta deve contar, até o ano de 2050, com uma população de 9,7 bilhões de pessoas, de acordo com projeções realizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em virtude disto, se tornou premente a necessidade de renovação do nosso portfólio alimentar, em especial, a fim de evitar a continuação da degradação dos nossos recursos naturais e de diminuir as emissões de gases causadores do Efeito Estufa, em especial, no setor pecuário.
Diversas pesquisas têm sido realizadas por muitas empresas ao redor do mundo, em parcerias com centros de pesquisas e universidades, com o intuito de encontrar soluções tecnológicas que, aos poucos, sejam capazes de substituir a cultura da carne e do consumo vegetal pouco diverso na vida dos consumidores tradicionais e os direcionar a uma alimentação cada vez mais ampla.
Há muita discussão a respeito da relação emocional existente entre as pessoas e o que elas comem e como é difícil de realizar uma mudança significativa nesta área. É sabido, porém, que o consumo atual de água, que é bastante elevado, e a geração de metano e gás carbônico em excesso, tal como hoje se dá, é, do mesmo modo, insustentável.
Aí surge a pergunta: como alterar a alimentação humana fazendo com que as boas experiências existentes no ato de comer continuem intactas ou, ainda que sofram mudanças, que estas sejam pouco significativas?
Talvez não precisemos conceber algo novo e sim, retomarmos os velhos hábitos perdidos em virtude do avanço do processo histórico, que, talvez, mais tenha nos tirado do que nos dado, pelo menos, no que se refere ao setor alimentício. Só para termos uma ideia, há 150 anos, a humanidade se alimentava com três mil espécies diferentes de vegetais que, em 90% dos países, eram consumidas localmente. De lá para cá e de pouco em pouco, esta situação começou a se modificar a partir de um incremento cada vez maior da atividade comercial em todo o globo. Mas como darmos um passo positivo atrás com o intuito de recuperar um pouco desta história perdida?
AINDA SEGUNDO A PESQUISA, EXISTEM MAIS DE 7.000 PLANTAS COMESTÍVEIS COM POTENCIAL PARA A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS.
De acordo com a bióloga e professora da Faculdade de Ciências Biológicas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Rita de Cássia Violin Pietrobom, há muitos alimentos extremamente nutritivos e de fácil cultivo, mas que, infelizmente, não são conhecidos pela maioria da população. Ela acredita que a divulgação de informações sobre estas plantas é o melhor caminho e que a diversificação na alimentação é muito importante, pois cada espécie vegetal apresenta um conjunto de nutrientes específicos (proteínas, carboidratos, vitaminas, minerais etc.) e quando a alimentação é pouco variada, o consumo destas substâncias fica restrito àquelas presentes nas plantas consumidas, o que não é tão bom para o nosso bem-estar.
NECESSIDADE DE DIVERSIFICAÇÃO
O que explica mais claramente a necessidade de diversificarmos a nossa alimentação aparece em um relatório publicado em 29 de setembro do ano passado pelo Jardim Botânico Real do Reino Unido. O estudo, que contou com a participação de pesquisadores de 42 países, incluindo o Brasil, mostra que a cada cinco espécies de plantas no planeta, duas estão ameaçadas de extinção. Ainda segundo a
pesquisa, enquanto existem mais de sete mil plantas comestíveis com potencial para a produção de alimentos, apenas quinze espécies vegetais fornecem 90% de toda a energia alimentar ingerida pela humanidade. A questão é: existem soluções para este problema? É neste contexto que aparecem as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC’s).
Com potencial alimentício e desenvolvimento espontâneo, atualmente, elas não são consumidas em larga escala ou são utilizadas apenas em determinadas regiões. Eis abaixo algumas das principais espécies que fazem parte deste grupo:
Ora-pro-nóbis
Rita explica que as PANC’s são de fácil cultivo e extremamente nutritivas e que o conhecimento sobre elas tem acontecido recentemente por conta da ascensão do Veganismo. Ela diz ainda que já foram identificadas, aproximadamente, seiscentas plantas do gênero consumidas em nosso país e citadas pela literatura especializada. “Dentre estas espécies”, comenta, “a mais consumida é a Ora-pro-nóbis, encontrada nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do país. As folhas são ricas em proteínas, carboidratos, ferro e vitamina C. Podem ser consumidas cruas, em saladas ou refogadas, e os frutos podem ser utilizados para a produção de geleias e sucos”. A bióloga, porém, explica que ainda existe certa insegurança por parte da população no consumo destas plantas, principalmente, devido à falta de informação.
No entanto, na atualidade, as PANC’s estão cada vez mais acessíveis, sendo possível encontrá-las, inclusive, em feiras livres. Muitas receitas com esses vegetais estão cada vez mais disponíveis na internet, o que pode ajudar, em muito, aqueles com interesse na diversificação de sua alimentação.
FIQUE LIGADO!
Pelas mais diversas razões, como preocupações com a saúde ou o meio ambiente ou, simplesmente, por gosto pessoal, o número de pessoas adeptas da alimentação à base de vegetais vem crescendo ano a ano. No Brasil, de acordo com uma pesquisa realizada, em abril de 2018, pelo IBOPE Inteligência, este número cresceu 75% em relação a 2012, quando 14% da população do país seguia esta vertente alimentar e o estudo foi concebido pela última vez.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também elaborou há pouco tempo uma lista dos dez legumes mais consumidos pelos brasileiros. No rol se encontram: Tomate; Abóbora; Chuchu; Pimentão; Pepino; Abobrinha; Quiabo; Berinjela; Jiló e Maxixe.
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