FUTURISMO, A CIÊNCIA QUE VISA NOS DESVENDAR O MUNDO DOS PRÓXIMOS ANOS

por | 20 fev, 2021 | 0 Comentários

JAQUELINE WEIGEL, CEO DA W FUTURISMO, TRATA DAS TENDÊNCIAS PARA 2021 E EXPLICA O QUE PRECISAMOS TER PARA ATINGIRMOS UM MUNDO MAIS JUSTO, SOCIAL E AMBIENTALMENTE

 

Quem poderia imaginar o que seria de 2020 em 2019? Quem de nós poderia prever o acontecimento de epidemias, guerras, catástrofes ambientais e crises econômicas com antecedência, a tal ponto de estas poderem ser evitadas ou terem os seus efeitos minimizados? Todas as surpresas que nos aguardam ao longo de nossas vidas e todos os imprevistos que já botaram a humanidade à prova no decurso de sua história são e foram os moldes perfeitos para explicar toda a nossa existência.
Dado isso, nos dias atuais, a fim de que empresas e indivíduos possam ter uma mínima ideia do que, efetivamente, pode vir a acontecer no futuro, com as inúmeras variantes que o hoje pode gerar no amanhã, cientistas sociais, tecnólogos e outros especialistas usam o seu conhecimento do passado e tendências atuais para fazer projeções de eventos futuros, no que já é chamado de Futurismo.

Olhar à frente para imaginar o que ainda não existe; prospectar o futuro para decidir o presente; antecipá-lo e se preparar para recebê-lo; ter clareza sobre as possibilidades emergentes para a sociedade, para o mercado e para o escopo do trabalho; e alimentar a criatividade, fomentar a discussão e dar base para estratégias, decisões e ações no presente são as clássicas missões de um futurista. CEO da consultoria-escola W Futurismo, Jaqueline Weigel, futurista profissional, estrategista e especialista em Foresight e Futures Studies e em Desenvolvimento Humano, Liderança Exponencial e Gestão Positiva de Mudanças, fala à Trinova sobre as tendências para 2021 e para os anos subsequentes, a respeito de como o nosso comportamento pode determinar o nosso futuro a partir de agora e o que é preciso que façamos para que alcancemos um mundo mais justo, social e ambientalmente. Acompanhe!

TRINOVA – Primeiramente, fale um pouco sobre a W Futurismo e ao que ela se propõe.
JAQUELINE – A W Futurismo é uma consultoria-escola, com especialidade em Foresight, que é o nome correto do que a gente chama de Futurismo e Futures Studies, que são a Prospectiva e os Estudos de Futuro. Nós fazemos parte de uma comunidade global, que estuda, de forma estruturada, pragmática e acadêmica, ferramentas e metodologias para a projeção de futuros e tomada de decisões a partir de nosso presente. A W se propõe a estimular o pensamento de longo prazo para empresas e profissionais e instrumentalizar as pessoas para que elas possam imaginar futuros alternativos e escolher o desejado e conviver com os futuros que a gente não controla e criar o pensamento antecipatório, a fim de nos adiantarmos as mudanças e não apenas reagirmos a elas. Nós temos duas frentes de trabalho. Uma delas é para empresas e organizações e a outra é para profissionais do mercado brasileiro. A verdade é que as oportunidades existem, mas tem muito pouca gente preparada para esse novo mercado.

TRINOVA – Você acredita que estamos muito longe de alcançarmos um “novo normal”? 2022 é o ano em que isso pode começar a acontecer?
JAQUELINE – Sim. Eu não acredito em “novo normal”. Eu acho que a gente tem “novos comuns”. Quando a gente usa a palavra “normal”, a gente tende a manipular as pessoas e a encaixá-las em um padrão que alguém determinou que é normal e eu penso que isso é nocivo para a nossa sociedade, que precisa ser livre para criar novos formatos diferentes. 2021, em todos os debates globais dos quais eu participei, será o início da saída da pandemia e eu acho que em 2022, a gente, talvez, comece a rumar em um passo mais sólido para essa nova dinâmica do mundo, que é totalmente volátil, incerto, complexo, ambíguo, difícil de entender, líquido, adaptável e intensamente mutante.

TRINOVA – E qual é a perspectiva para estes “novos comuns”?
JAQUELINE – A pandemia há de ser um marco na virada do século 20 para o 21, sendo que este último será a grande era de expansão da consciência, onde a gente vai precisar construir uma harmonia entre o planeta e as espécies. O planeta está machucado com a nossa má existência e falta de cuidado. Então, eu acho que a era de ter coisas e fazer tudo a qualquer preço será substituída por uma de mais abundância, mas também de mais consciência com o que fazemos com a nossa vida e com a do próximo, mudando a forma de como tocamos os negócios, a sociedade etc.

TRINOVA – O nosso comportamento egoísta e egocentrista dos últimos trinta ou quarenta anos pode estar chegando ao fim com esta pandemia ou este é apenas um momento e logo tudo deve voltar ao normal?
JAQUELINE – Eu acredito que ele esteja chegando ao fim, sim. O individualismo e o egocentrismo não são mais aceitos pela sociedade. Hoje, estes são comportamentos vergonhosos. Então, nós não podemos pensar só em nós mesmos. A pandemia nos revelou muita gente sem nenhuma empatia, que não se preocupa com nada, a não ser consigo mesmo e que não é capaz de adiar recompensas em busca do prazer imediato. Nós não podemos fazer tudo o que queremos porque isso afeta os outros também. Então, eu acho que esse pensamento coletivo, a partir de agora, há de ser mais importante. Nada deve voltar a ser o que era antes, mesmo porque quando a gente entra em um estado de transformação ou de mudança, as coisas não voltam ao seu estágio anterior. O nosso planeta e a nossa espécie estão em evolução progressiva. Eu não acredito em retomada, só em recomeço.

TRINOVA – Agora, em relação as empresas. O que estas precisam fazer para melhorar a sua relação com as questões socioambientais, tão necessárias no nosso estado atual de coisas?
JAQUELINE – A Governança Ambiental, Social e Corporativa veio para ficar e, a partir de agora, a gente há de viver uma sustentabilidade revisitada, que não é mais a falsa sustentabilidade. Todas as empresas, projetos e negócios precisarão discutir o impacto que elas causam ao ambiente e como vão prejudicá-lo menos ao criar os seus serviços e produtos. Empresas que não incluírem a conversa ambiental, social e de governança nas discussões dos seus negócios, dificilmente irão sobreviver mais do que dois ou três anos e a inovação será essencial. Agora, mudar irá doer, mas custará bem menos do que não mudar.

W Futurismo

TRINOVA – Mas é possível inovar em relação à cadeia produtiva atual e a realização dos negócios como um todo?
JAQUELINE – Inovar é necessário, mas estamos entrando em um tempo de transformações. Só inovar não é o suficiente e a nossa cadeia produtiva não irá para frente tal como hoje se encontra. Logo, nós seremos dez bilhões de pessoas, então, produzir, consumir e distribuir como fizemos até agora não será mais uma opção. Precisaremos colocar os negócios a serviço da sociedade, abraçar os desafios globais de sustentabilidade e fazer a nossa parte, para então termos o direito de monetizar. A sociedade cobrará ativamente das empresas esse engajamento social e só vão ter lucro aquelas empresas que, realmente, tiverem este engajamento. Aliás, as empresas que trabalham com propósitos sociais têm muito mais lucro do que as outras e essa é uma lição difícil para os executivos tradicionais.

TRINOVA – Até onde o home office é bom ou ruim, uma vez que a perda de relacionamentos diários e o fato de não sairmos de casa, transformando-a em um local de trabalho, não parece ser algo exatamente saudável?
JAQUELINE – Tempo é um ativo valioso. Ninguém quer mais perder tempo de vida em função de ficar trabalhando em um formato robótico ou escravo. Isto é totalmente ultrapassado. Acho que o home office é bom para as empresas, porque elas economizam e é bom para as pessoas porque elas ganham tempo. E está provado que podemos trabalhar de onde estivermos. Eu acho que as casas estão se equipando para essa nova realidade. Eu penso também que, depois da pandemia, os relacionamentos tendem a voltar, sim, mas eles estão aquecidos à distância e eu não acho que antes contávamos com relacionamentos saudáveis no mundo presencial do jeito que ele era. A gente convivia com as pessoas, mas não se relacionava realmente. Agora estamos mais atentos e cuidadosos com os relacionamentos e o mundo do futuro será híbrido. Ele deve ter o trabalho em casa, mas grande parte da socialização ainda continuará acontecendo nas escolas, nas empresas, nas universidades etc, que tenderão a ganhar mais qualidade com isso.

TRINOVA – Por fim, quais são as principais tendências de futuro para o pós-pandemia?
JAQUELINE – Não é mais aceitável que tenhamos uma vida medíocre, que vendamos todo o nosso tempo de vida para o trabalho e fiquemos parados em um trânsito insuportável. A gente nunca viveu tanta criatividade ativada e, em 2021, o tempo livre vai ser o nosso maior ativo. No meio ambiente, a restauração do planeta já é a pauta principal. A gente vive um caos climático e precisamos reequilibrar a harmonia com a natureza. Na economia, a gente pode vir a ter uma escassez de recursos e entraremos na chamada “economia do tempo”, em que este passará a ser um ativo empresarial muito importante, com a predominância das relações virtuais. Pequenas comunidades devem se auto-organizar, com pequenos e médios negócios, tocando a economia de um jeito diferente, com novas formas de comprar, pagar e entregar. Na tecnologia, o debate agora é ético, do que as empresas podem ou não fazer com o que possuem e, em relação a empregos, a gente tem uma previsão de perda de muitos deles, em virtude da automação e das mudanças nos formatos de trabalho. Mas não só. A quantidade de pessoas que ainda não está preparada para esse novo mercado é realmente assustadora e eu acho que agora é a hora da gente olhar para isso e mudar o nosso pensamento. Resistir é uma perda de tempo. A gente precisa estar em 2021 fazendo o que tem de ser feito, sem mais delongas.

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