A QUESTÃO ESTÁ NA APLICAÇÃO DA TECNOLOGIA E NO BENEFÍCIO OU MALEFÍCIO ÀS POPULAÇÕES
O futuro e o que ele nos reserva. Museus ao redor do mundo estão empenhados em nos dar uma “canja” do que ainda está por vir nas mais diversas áreas do conhecimento humano.
O Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, abriu a porta para que diversas outras instituições do gênero se empenhassem em tentar nos mostrar um pouco daquilo que é tendência para o futuro e elas têm se encarregado disso. O Climate Museum, nos Estados Unidos, e o UN Live Museum, na Dinamarca, são dois ótimos exemplos a serem conferidos. No entanto, a mais nova opção é o Museu Futurium, inaugurado em Berlim, em setembro de 2019.
Alojado em um edifício de pura arquitetura moderna, com três andares e cerca de 3.200 metros quadrados de espaço para exposições, a organização abriga algumas de suas obras mais interessantes no chamado “Futurium Lab”, onde os visitantes podem experimentar, na prática, a “Futurologia”, que nada mais é que a ciência que estuda como os acontecimentos contemporâneos podem impactar a sociedade como um todo daqui a alguns anos.
A seguir, você poderá curtir duas ideias revolucionárias nas áreas de inteligência artificial e arquitetura, e que poderão, em algum momento, fazer parte de nossas vidas, porém, a ideia da entidade é procurar aguçar o nosso senso crítico a fim de que possamos analisar o quanto estas tecnologias podem ser utilizadas, tanto a nosso favor, como contra nós.
POR ALGUMA RAZÃO, TORNOUSE NORMAL E, ATÉ MESMO MODERNO, DISCUTIR A FISIONOMIA E A FRENOLOGIA, DESDE QUE VOCÊ CHAME ISSO DE PSICOMETRIA
DIGA X E SORRIA PARA VOTAR
A cada dois anos o Brasil conta com a realização de eleições, ora gerais, ora municipais. No dia em questão, vamos para a nossa seção eleitoral, ficamos em frente à urna, damos um sorriso rápido e pronto. Votamos! Hã?! Bom, pelo menos é o que propõe o “Smile to Vote”, que, do inglês, significa “Sorriso para Votar”. Antecipando cenários futuristas, o projeto tira as decisões políticas de nossas mãos e o nosso voto vai automaticamente para o partido com o qual mais nos parecemos. Assustador? Louco? De acordo com Alexander Peterhaensel, professor de mídia digital da Universidade de Ciências Aplicadas de Brandemburgo, esta situação não é tão improvável e nem está tão distante de nós quanto pensamos. Por conveniência, já permitimos que os sistemas automatizados tomem mais e mais decisões em nosso nome.
Nos bastidores, estas tecnologias já governam uma parte considerável de nossa vida cotidiana. Peterhaensel afirma que “as multinacionais já usam inteligência artificial para analisar o nosso comportamento e obter dados biométricos. Em casa, ‘Alexa’, ‘Google Home’ e outros sistemas ouvem as nossas conversas; nas redes sociais, compartilhamos nossos pensamentos e hábitos privados; e câmeras de circuito fechado de televisão rastreiam nossos movimentos em espaços públicos”.
Ele explica que estes circuitos fechados de televisão, guiados por softwares, podem identificar quase que qualquer pessoa com dados biométricos conhecidos, que podemos compartilhar até voluntariamente para desbloquear o nosso smartphone ou pagar o almoço. O projeto do próprio Peterhaensel foi inspirado por iniciativas semelhantes, como a abordagem “Sorria para Pagar”, da gigante varejista chinesa Alibaba, onde o sistema em questão permite que o usuário use o próprio rosto para pagar por produtos e serviços.
“Estou chocado que os defensores da Psicometria realmente acreditem que essa tecnologia é uma boa ideia, ou seja, usar algoritmos para extrapolar nosso caráter ou comportamento futuro a partir de nossa aparência”, opina o professor. Ele lembra que “afinal, há uma boa razão para a chamada Frenologia, que nada mais é que usar a forma de uma cabeça humana para determinar o caráter e a inteligência de alguém, ter sido desacreditada e tratada como pseudociência no século 20”.
CALCULANDO MENTES
Os escândalos ocorridos com a empresa Cambridge Analytica (cuja falência foi pedida em 2018) nas eleições norte–americanas de 2016 e na votação sobre o Brexit, ocorrida no mesmo ano, ressalta os perigos de se utilizar de dados pessoais alheios para influenciar a política. É com base neste princípio que o “Smile to Vote” age. Para determinar o comportamento do eleitor, a cabine de votação falsa de
Peterhaensel traz em si a foto de setecentos parlamentares alemães, classificados por filiação política. Através de determinados padrões de comportamento que o seu rosto acaba por “entregar” ao sistema da máquina, você é medido e comparado a padrões já existentes na urna, sem que você perceba. Uma vez que o seu rosto aparece no monitor, o sistema leva apenas alguns segundos para determinar a pessoa “certa”, porém, este sistema de votação automatizado só pode funcionar, segundo o professor, “se realmente colocássemos nossos corações em nossas mangas e nossas filiações políticas em nossos rostos. Felizmente, esse não é o caso. No entanto, é ainda mais assustador que confiemos tanto em algoritmos semelhantes em outras áreas de nossas vidas. E este é apenas o começo. Por alguma razão, tornou-se normal e, até mesmo moderno, discutir a Fisionomia e a Frenologia, desde que você chame isso de Psicometria”. Ele alerta, por fim, que “pagar por conveniência com nossa liberdade pessoal nunca é uma boa ideia e que realmente precisamos decidir se queremos ser controlados por algoritmos ou queremos nós mesmos controlar os sistemas”, inclusive nas cabines de votação.
A TORRE IMPRESSA
Caroline Høgsbro e Sven Pfeiffer projetam o futuro usando um braço robótico que “imprime” a arquitetura a partir da argila. Camada por camada, ele transforma a pasta cerâmica em arranha-céus de ficção científica, tal como “torres impressas”.
De acordo com Caroline, “razões econômicas e outros fatores restringem os arquitetos de hoje a tamanhos e formas predeterminadas. Também há uma margem menor para a experimentação com materiais diversos antes de estes chegarem ao canteiro de obras”. Pfeiffer, por sua vez, acrescenta que “devemos encontrar alternativas ao concreto, pois, embora ele ofereça algumas vantagens inegáveis para a construção, ele também cria muitos problemas. Seus principais ingredientes são a areia e o cimento. A areia está se tornando cada vez mais escassa e a produção de cimento libera muito dióxido de carbono, sem falar no problema substancial dos resíduos do próprio concreto”.
A SURPREENDENTE VERSATILIDADE DA CERÂMICA E O ROBÔ COLABORATIVO
Caroline comenta que “em vez de focarmos na queima de peças de porcelana, queríamos desenvolver um processo que pudéssemos usar diretamente no local (da construção) para erguer edifícios em qualquer escala. Os resultados são limitados apenas pela escala do robô e sua extrusora”. Outro aspecto interessante da “Torre Impressa” é a sua colaboração estreita, mas flexível, entre humanos e máquinas. Ao contrário dos robôs industriais regulares, seu cobot (ou robô colaborativo) foi desenvolvido deliberadamente para trabalhar com pessoas. Seus sensores garantem que ele pare imediatamente ao colidir com alguém e os arquitetos podem usá-lo para projetar no estúdio, para intervir nos processos de planejamento e construção no local ou para fazer reparos e alterações posteriores.
APRENDA LOCALMENTE, CONSTRUA GLOBALMENTE
“Em nossos workshops, os visitantes podem misturar a argila e sentir a consistência certa ou ensinar ao robô diferentes movimentos para explorar a interação entre o homem e a máquina”, explica Pfeiffer. Caroline vai adiante e admite que deseja ampliar os horizontes de quem visita o lugar. “Estamos prestes a levar os nossos alunos para a Índia a fim de descobrirmos mais sobre a arquitetura de argila e os métodos tradicionais de construção. Se quisermos usar melhor os recursos do planeta, precisamos nos tornar mais inteligentes e de alta tecnologia”, finaliza.
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