NEUROARQUITETURA E SUA IMPORTÂNCIA PARA PROJETAR AMBIENTES QUE IMPACTAM NA SAÚDE E BEM-ESTAR DAS PESSOAS

por | 22 set, 2022 | 0 Comentários

Comprovado cientificamente, o novo conceito é fundamental no desenvolvimento de projetos, aliando arte e ciência na criação de espaços saudáveis, em uma relação entre estética, funcionalidade e sentidos

Imagine lugares projetados a partir das possíveis emoções sentidas pelas pessoas que irão frequentar o ambiente? Escolas que estimulam a criatividade, área de trabalho que promove produtividade e concentração, hospitais que ajudam na recuperação do paciente, lojas com o cheiro exclusivo da marca para transmitir o desejo de compra? Imaginaram? Tudo isso é neuroarquitetura!

Este conceito pode ser definido como a aplicação da neurociência na arquitetura, ou seja, compreender como o cérebro humano funciona para aplicar aos projetos. De uma maneira mais prática, a neuroarquitetura aponta os caminhos para projetar ambientes eficientes, baseados não apenas em parâmetros técnicos de legislação, ergonomia e conforto ambiental, mas também quais estímulos cerebrais podem ser impactados para gerar diferentes sensações. Através dessa compreensão, é possível mudar gatilhos no ambiente provocando experiências que vão alterar o comportamento.

Neuroarquitetura já está presente em grande marcas
Para entender e desmistificar esse tema, a Trinova conversou com a professora, pesquisadora e pós-doutora em Semiótica pelo Instituto Universitário da França, Sylvia Demetresco, que atuou por 30 anos como diretora de Visual Merchandising (VM) da empresa ROLEX e também foi a VM da loja Natura de Paris, entre 2005 a 2010. Sylvia é professora na École Supérieure de Visual Merchandising na Suíça, na escola do luxo ISTEC em Paris, na pós-graduação de Visual Merchandising da FAAP e Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, além de editora da revista internacional Inspiration.

Para a pesquisadora, os conceitos de neuroarquitetura já são aplicados em ambientes corporativos e lojas de grandes marcas de luxo há muitos anos, porém, não havia essa denominação e comprovação científica que se tem hoje. Os profissionais pensam no percurso do cliente na loja, ambientação dos displays conforme o gosto do consumidor e sedução para atrair o olhar em primeiro lugar.

Uma marca que traz esses elementos em suas lojas, segundo Sylvia, é a Dengo, fabricante de chocolates 100% brasileiros e co-criada por Guilherme Leal, sócio-fundador e copresidente do conselho de administração da Natura. Com seu ‘quebra-quebra’, grandes placas de chocolates recheados vendidos à granel, todo o ambiente encanta. “A loja da Dengo emociona pelo paladar, pelo cheiro, pela história da fábrica de chocolate e, por fim, pelo som do cacau se quebrando ao comprar um pedaço do chocolate ‘quebra-quebra’. Ao percorrer a loja, tudo se remete às cores do cacau, desde a madeira até o piso cerâmico quebrado, que associa também ao seu principal produto”, conta.

Sylvia Demetresco, professora, pesquisadora e pós-doutora em Semiótica pelo Instituto Universitário da França

A neuroarquitetura aplicada em um ambiente

Nos núcleos urbanos as pessoas vivem de 90 a 95% da sua existência dentro de espaços construídos, por isso a maioria das memórias e momentos marcantes estão ligados a um ambiente físico. Com isso, deve-se levar em consideração o impacto que o ambiente pode causar nas emoções e gerar memórias positivas na vida das pessoas.

“A neurociência nos diz que nossa percepção consciente é menos de 1% de todo o processamento inconsciente de informações que acontecem no nosso cérebro. Assim, as nossas emoções e o nosso instinto influenciam na tomada de decisões que são feitas diariamente”, explica Patrícia Brasil, designer e diretora da Lado Doi2 Design, empresa baiana pioneira em projetos exclusivamente dedicados à neuroarquitetura, em conversa com a Trinova.

Patrícia Brasil, designer e diretora da Lado Doi2 Design, empresa baiana
pioneira em projetos exclusivamente dedicados à neuroarquitetura

De acordo com Patrícia, hoje, os projetos são voltados para gerar experiências, seja em casa, no trabalho ou na vida social, como em espaços de entretenimento, por exemplo. Na neuroarquitetura é analisada a rotina e as preferências das pessoas. Exatamente por isso não existe uma fórmula, já que ela será adaptada para o grupo daquele determinado espaço que está sendo projetado.

Para exemplificar, Patrícia lembra das ações que foram desenvolvidas nas escadas do metrô de São Paulo, com o objetivo de desenvolver projetos na cidade que estimulassem a atividade física de forma mais orgânica, sem as pessoas se incomodarem, se sentirem forçadas ou se darem conta de que estão praticando exercício, ofertando possibilidades contra o sedentarismo. A Tintas Coral pintou com diversas cores as escadas tradicionais, de concreto, de uma estação de metrô. Essa simples ação motivou seu uso, fazendo com que mais de 63% das pessoas utilizassem essa escada tradicional em detrimento a escada rolante, que ficava ao lado, criando ainda um espaço instagramável. “Subir a escada fixa virou algo divertido, mexendo com as emoções através dessa ludicidade. Este é apenas um exemplo de que os ambientes afetam a nossa tomada de decisão e, consequentemente, os nossos hábitos”, destaca Patrícia.

#Osascomusical, escada da Estação de Osasco com sons de piano

Na neuroarquitetura, quanto mais sentidos o ambiente conseguir estimular, mais rico sensorialmente ele será. O importante é, segundo Patrícia, ter um olhar apurado a alguns pontos de atenção, como ventilação natural, iluminação natural, atenção à acústica, vista (visualizar o externo), cores, mobiliário, convivência, biofilia (conexão com a natureza) e até à organização do espaço.

“Uma vez que entendemos o que o design e a arquitetura são capazes de fazer, podemos mudar o ambiente e criar espaços que atendam às nossas necessidades de maneira consciente”, é o que diz Suchi Reddy, arquiteta e artista indiano-americana, fundadora da Reddymade, uma prática de arquitetura, design e arte pública com sede na cidade de Nova York. Ou seja, a aplicação da neuroarquitetura pode gerar uma transformação que trará maior bem-estar, melhora do humor, aumento da produtividade, melhora do aprendizado e até da saúde.

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