MANOEL PEREZ NETO
é vice-presidente da Sicoob Cocre; sócio-fundador da Zurique Consultores e professor e coordenador do IbeCoop – Governança Corporativa e Sucessão
Agro é tech, agro é pop, agro é tudo!”. É muito provável que você já tenha visto, ou pelo menos ouvido, o slogan de uma das campanhas de maior sucesso dos últimos anos da TV brasileira, que fala da evolução e da importância do setor do agronegócio no Brasil. Feita com o intuito de desmistificar o paradigma de que o setor está atrelado a produtores simples (os chamados “caipiras”, por muitos — o que ainda persiste no imaginário dos mais desavisados), ela cumpre bem o seu papel de, no campo da propaganda, passar a mensagem principal: o futuro chegou ao agro!
Falar de agro, hoje, é falar puramente da tecnologia de última geração, inovadora e de vanguarda para a produção, distribuição, venda e consumo de alimentos e insumos que sustentam o mundo. E o Brasil é o grande protagonista de tudo isso. Nos últimos quarenta anos, a produção agropecuária brasileira se desenvolveu de tal forma que o nosso país já pode ser considerado um dos principais fornecedores de alimentos do planeta.
Não seria exagero dizer que, nos últimos anos, o agronegócio tem sustentado o país, não somente no que diz respeito a “matar a fome”, mas também no sentido de geração de resultados econômicos. Em tempos de incerteza é o agro que faz as coisas ficarem um pouco mais equilibradas, batendo recordes e atingindo cada vez números ainda maiores. Para se ter uma ideia, em 2019, a soma de bens e serviços gerados no agronegócio chegou a R$1,55 trilhão, o que representou 21,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, sendo que a maior parcela veio do ramo agrícola, que correspondeu a 68% desse valor (R$1,06 trilhão), enquanto a pecuária representou 32%, ou seja, R$494,8 bilhões. Quanto ao comércio internacional, 43% das exportações brasileiras, em 2019, foram de produtos do agronegócio. Outro ponto importante a se destacar é o fato de que, desde 2008, o superavit comercial do agronegócio brasileiro tem superado o deficit comercial dos demais setores da nossa economia, o que tem garantido o superavit da Balança Comercial Brasileira.
Hoje, o Brasil é um dos cinco maiores produtores agropecuários do mundo e é o terceiro maior exportador, ficando atrás apenas da União Europeia, dos Estados Unidos e da China. Além disso, o setor também tem contribuído no enfrentamento dos efeitos da pandemia, garantindo o abastecimento interno e segurando o desempenho macroeconômico brasileiro, representando um crescimento de 1,9% do PIB no primeiro trimestre de 2020, frente ao mesmo período de 2019. Para se ter uma ideia, no primeiro quadrimestre de 2020, o volume das exportações do agronegócio cresceu 11% e suas receitas em Dólar, 5,9%.
INOVAÇÃO! ESSA É A CHAVE
Sim, o agro tem sido a grande alavanca da nossa economia e isso se deve, sobretudo, à inovação. E podemos identificar os motivos. O setor é um dos que mais tem recebido recursos e atenção dos investidores nacionais e internacionais, muito por conta, claro, do potencial que o agro brasileiro possui para ser o grande produtor de alimentos do mundo nas próximas décadas. Além disso, startups e novas formas de empreendimentos também têm focado suas energias no agro, que tem se aproveitado — e muito — desse movimento, tornando-se um dos setores mais tecnológicos da nossa economia.
SIM, O AGRO TEM SIDO A GRANDE ALAVANCA DA NOSSA ECONOMIA E ISSO SE DEVE, SOBRETUDO, À INOVAÇÃO
As agtechs, por exemplo, muito movimentaram os negócios no campo nos últimos anos. Elas inovaram e mudaram, completamente, o perfil do setor, estimulando e tornando, praticamente, regra, a adoção de tecnologias para a produção, dando origem a um negócio bilionário. De acordo com o AgFunder Agri-FoodTech Investing Report, nos dois últimos anos, foram investidos mais de US$40 bilhões em agtechs em todo o mundo. No Brasil, junto do segmento de educa ção, as agtechs agro são as startups que mais crescem. Das 12.967 startups brasileiras, 326 são do agro, o que já representa 3,18% do total, segundo a Associação Brasileira de Startups. Vale lembrar que Piracicaba é uma das cidades que mais desenvolvem tecnologias voltadas ao agronegócio, graças a uma das mais renomadas universidades do Brasil e do mundo, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), que é referência internacional em agronomia. A cidade conta, ainda, com aceleradores de startups e fintechs com foco no agro e inúmeros profissionais que são referência em temas de inovação, sustentabilidade e desenvolvimento do agribusiness. Para se ter uma ideia, somente em 2020, o Parque Tecnológico de Piracicaba teve um aporte de R$20 milhões com a instalação de mais cinco empresas voltadas ao desenvolvimento de novas tecnologias.
PRINCIPAIS TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS
Com o crescimento das agtechs, outra modalidade de negócio que deve crescer e ganhar cada vez mais força nos próximos anos é a de fundos de investimentos para aportes de recursos nas novas empresas. O AgVentures, fundo da SP Ventures que é 100% focado no mercado agro, já injetou mais de R$300 milhões em agtechs, por exemplo. Fatos como esse mostram que o setor deverá seguir sempre a tendência da inovação, propondo novas formas de se fazer negócios, inclusive, para outros setores da economia. O agro planta, mas todos colhem. Entre os produtores rurais, podemos citar algumas das tecnologias que já são realidade e as que devem se tornar tendências para os próximos anos, como:
SENSORES
Por agilizar e potencializar a coleta de dados, os sensores têm se tornado, praticamente, uma regra para quem quer ser competitivo. Além disso, eles também são capazes de realizar comandos de forma automática, executando tarefas à distância em tempo real. Uma realidade que deve seguir e ser aperfeiçoada para os próximos anos.
DRONES
Ícones do desenvolvimento no campo, os drones seguirão sendo muito importantes para os produtores, uma vez que eles permitem acompanhar o desenvolvimento da lavoura em relação ao surgimento de pragas, doenças ou outros problemas no campo, através de imagens que dão uma noção panorâmica da produção.
SOFTWARE DE GESTÃO
O produtor rural do século 21 deve andar com celular, tablet, notebook e demais aparelhos tecnológicos embaixo do braço se quiser ter bons resultados. O crescimento do setor deverá passar pela organização da gestão de todas as operações inseridas no processo e isso inclui a aquisição de softwares e aplicativos de gestão que estão sendo disponibilizados no mercado, principalmente, aqueles relacionados aos custos de produção.
O PRODUTOR RURAL DO SÉCULO 21 DEVE ANDAR COM CELULAR, TABLET, NOTEBOOK E DEMAIS APARELHOS TECNOLÓGICOS EMBAIXO DO BRAÇO SE QUISER TER BONS RESULTADOS
AGRICULTURA VERTICAL
O mundo tem cada vez mais demandas por comida e, paralelamente, cada vez menos espaço para produção, por diversos motivos. Por isso, assim como na vida urbana, a tendência é verticalizar. Essa modalidade tem sido vista como a tecnologia do futuro para alimentar as próximas gerações.
MARKETPLACE
Agro não se faz mais apenas no campo. Ele é digital. O mundo segue a tendência do mercado on-line e, por isso, o agro não ficará de fora dessa. Maior exposição, facilidade e lucratividade estão entre os benefícios de se apostar no marketplace.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Fazendas inteligentes que sabem o momento exato de plantar, regar, pulverizar e colher, devem ser o futuro da produção de alimentos. Viveremos, sim, a era dos algoritmos cuidando da nossa comida, solucionando problemas com a racionalidade e lógica computacional, para que possamos produzir mais e melhor.
PROFISSIONALIZAÇÃO NO CAMPO
Toda essa evolução já tem feito com que o perfil do trabalhador do campo tenha mudado radicalmente. Por isso, para os próximos anos, a tendência é vermos, cada vez mais, engenheiros, técnicos e profissionais especializados na criação e operação de tecnologias avançadas.
Esse é o agro brasileiro, o setor que sustenta o mundo. Valorizar os nossos agricultores, empresários rurais, indústrias e comércios agrícolas é uma atitude estratégica e voltada para o desenvolvimento do nosso país, das pessoas e da comunidade como um todo. Afinal, somos o único país no mundo que consegue crescer, produzir e aumentar a capacidade e escalabilidade de alimentos para o planeta e, ainda, na velocidade e qualidade exigida ao longo das últimas décadas.
0 comentários