Você já parou para pensar o que se passa com o bebê nos seus primeiros dias e meses de vida?
Como conseguimos nos comunicar com eles?
Por muito tempo, o bebê não ocupou lugar nos conhecimentos científicos, sendo subestimado naquilo que eles são capazes de fazer. Atualmente, os avanços tecnológicos permitem com que nos aproximemos mais de suas potencialidades. E assim, deparamo-nos com frases como: “os bebês estão mais espertos, mais inteligentes hoje em dia”.
A questão que surge, consecutivamente é “será que eles são mais espertos e inteligentes? ou nós que passamos a vê-los além de um corpo que ‘só dorme’?”
Esses novos conhecimentos fazem com que nos aproximemos cada vez mais de um bebê potente e capaz de interagir com o mundo e o seu entorno. Parafraseando uma psicanalista belga, Marie Couvert, “o bebê é a bússola”, ou seja, são eles quem nos posiciona no lugar de autor da sua própria história. Por esse ângulo, muitas coisas mudam: são os bebês que escolhem o que dizer de si mesmo, quando e como. Somos seres falantes e acreditamos nessa definição como a melhor forma de comunicação, sem observar os outros elementos que a compõem. Ela é compreendida como o ato de partilhar algo, tornar alguma coisa em comum. Assim, sempre temos, na comunicação, um que dirige uma informação para que outro capte essa mensagem e faça a sua interpretação.
Escutar os bebês é, então, muito mais do que os ouvir, seja nos seus choros ou produções sonoras. É estar atento aos seus movimentos e reações. Segundo a psicanalista Érika Parlato-Oliveira, a linguagem do bebê é multimodal. O que isso quer dizer? O código usado pelo bebê ultrapassa as palavras do nosso idioma. Ele vai nos dizer dele mesmo por suas singularidades, suas produções sonoras, suas escolhas, seus gestos. Assim, cada bebê produz uma expressão singular, cabendo a nós adultos aproximarmos dessas construções e interpretarmos aquilo que eles nos dirigem, que sempre será de cada bebê.
Quando estamos disponíveis a essa escuta, nesse contexto de singularidade, somos capazes de identificar que um mesmo bebê escolhe como ele fará seu direcionamento a cada interlocutor, ou seja, o bebê é capaz de escolher a forma que irá se comunicar de acordo com o adulto que está lhe escutando e essa escolha é sempre intencional. Isso significa dizer que um mesmo bebê consegue responder a provocação do adulto de maneira diferente, de acordo com a escolha dele.
ATRAVÉS DE PESQUISA CIENTÍFICA, SABESE QUE OS BEBÊS SÃO CAPAZES DE RECONHECER SEU PRÓPRIO NOME AOS 4 MESES.
Essa comunicação passa via movimentos corporais ou produção sonora, ainda que não consigamos identificar as palavras. Eles são capazes e buscam sempre ir ao encontro do adulto que lhe é capaz de provocar a sensação de prazer. Assim, recusar o encontro com um de seus cuidadores também é uma escolha dele. Essas respostas devem ser lidas em sua singularidade, assim, não devemos dizer que todos os movimentos ou gritos de um bebê é igual ao de outro. É importante o cuidador estar atento e perceber aquilo que é padrão dessa criança.
O que é comum a todos bebês é que eles chegam ao mundo como estrangeiros da própria morada. Terão que reorganizar as suas habilidades. Quando pensamos em comunicação, a habilidade auditiva é a primeira que nos chama a atenção. O aparelho auditivo é formado e possui função desde o período gestacional, dessa forma, a cavidade intra uterina permite que eles sejam capazes de ouvir. Sabendo disso, não é de se estranhar que algumas marcas desses sons sejam reconhecidas posteriormente.
Através de pesquisa científica, sabe-se que os bebês são capazes de reconhecer seu próprio nome aos 4 meses. Talvez até antes desse tempo, em culturas as quais têm como hábito nomear a criança antes do nascimento, como no nosso país.
Ainda não foram realizadas pesquisas com bebês menores para se dizer qual a exata idade desse reconhecimento.
Outra habilidade importante é a discriminação de fonemas, que vai sendo perdido com o passar do tempo. Um exemplo é pensar na pronúncia do th do inglês. O adulto em muitos momentos não consegue discriminar a pronúncia de um nativo e de um estrangeiro que mora há muito tempo em país de idioma inglês, isso é bem diferente para os bebês. Eles conseguem fazer essa discriminação, assim como reconhecer fonemas que não são produzidos em todos os idiomas.
Nós adultos é quem perdemos habilidades.
Para os bebês que nascem em famílias com idiomas distintos, eles sabem diferenciar os sons e, a partir do momento que são capazes de produzir fonemas, dirigindo-se em idiomas diferentes a cada um dos seus cuidadores. E, por vezes, podem até ter um tempo diferente para produzir os sons, para produzir as falas.
Ainda quanto ao reconhecimento de sons, sabe-se que os bebês têm preferência pela voz feminina, quando comparada à masculina, remetendo àquela que ele ouviu durante as suas 40 semanas. Assim, a preferência é pela voz materna a paterna. No entanto, eles são capazes de diferenciar a voz materna de outra mulher, o mesmo para a paterna, preferindo aquelas produções sonoras que lhe são mais familiares. Um outro elemento importante que contribui para a aquisição da fala é a musicalidade das falas dirigidas ao pequeno. Não se trata de falar no diminutivo, mas fazer o uso de uma fala melódica, conhecida como manhês, que o jeito de se dirigir ao pequeno de maneira carinhosa e com alterações no ritmo, como se estivesse produzindo uma música.
Enquanto esses bebês não produzem o som, eles são fascinados por aquilo que lhes é dirigido pelas falas e com uma associação de eventos e palavras, eles começam a montar seu próprio vocabulário, testando as suas produções e aprimorando-as. Podemos dizer que eles são verdadeiros professores de estatística e probabilidade.
Assim, não podemos mais os considerar como simples sujeitos que só existem. Nesse primeiro ano, eles passam por muitas adaptações, encontram muitos desafios. E, em alguns momentos, o efeito das possíveis confusões de linguagem podem lhe causar sofrimento psíquico, que também merece ser visto e cuidado.
Assim devemos estar atentos aquilo que eles nos dizem, aquilo que podemos chamar da sua assinatura enquanto um estrangeiro em terra onde se tem a gravidade. Essa maneira escolhida para nos dirigir algo, sua produção também provoca equívocos e podem interferir na compreensão, causando os desentendimentos naquele que não usa da fala como objeto de comunicação.
0 comentários