O NOVO LUXO E AS MUDANÇAS NA ARQUITETURA E NO DESIGN

por | 6 jul, 2022 | 0 Comentários

Aideia de luxo está associada aquilo que nos é raro e, portanto, caro – não necessariamente à riqueza material e financeira –, mas aquilo a que de fato damos valor. Lembra do uso da palavra em conversas como “meu caro amigo”?

Na origem a palavra luxo vem do Latim LUXUS, que significa excesso, extravagância e magnificência. Provavelmente deriva de LUCTUS, “deslocado, esticar, tensionar” (daí a palavra “luxação”) trazendo o sentido de fora de lugar.
Luxo também tem relação com LUX do Latim, que é luz, brilho, por isso, por muito tempo, o luxo esteve associado a tudo que brilhava em excesso.
Em toda a antiguidade houve reverência ao brilho e consequentemente ao Sol. Temos inúmeros exemplos em diversas culturas, tendo seu auge no período conhecido como Rococó, durante o século XVIII, e como grande referência na arquitetura e decoração o estilo Luís XV, em homenagem ao Rei Luis XV da França.
Louis XV nasceu em Versailles, um dos maiores ícones desta imagem que o luxo transmitia. Mas, também é importante lembrar onde tudo isto levará anos mais tarde com o casamento de Luís Augusto com Maria Antonieta: a queda da Bastilha, guilhotinas e a Revolução Francesa.
Outra palavra que se origina de LUXUS é luxúria, que significa desregramento sexual e também associada a cobiça ou apreço por bens materiais, ou seja: excesso e algo fora de lugar.

Alvaro Guillermo e Cristiane Teixeira, Em evento na Spazio Pisos e Revestimentos

Esta introdução é importante para entender o impacto que o luxo carrega na relação de extravagância representada pela arquitetura e pelos objetos da decoração com a sociedade mais favorecida, a elite econômica.
O mundo mudou muito e a velocidade tomou conta de tudo. Praticamente não temos tempo para fazer mais nada, estamos sempre correndo de um lado para o outro. O tempo passou a ser o item mais valioso de nossas vidas. Esta nova relação com o tempo muda radicalmente no nosso habitar e com os objetos do nosso entorno.
A arquitetura residencial passa a dar mais valor ao ficar em casa, conceito potencializado pela pandemia da Covid-19. Nesse sentido é importante reforçar que esta é uma tendência que precede a pandemia, e que o isolamento forçado só aumentou a percepção da necessidade disso. Ter tempo para curtir a casa e realizar inúmeras tarefas que nos dão prazer, com qualidade, passou de um luxo desejado a algo necessário para viver bem.

Essa tendência vem sendo reforçada pelo crescimento do movimento slow, principalmente do Slow Design que apresenta espaços, ambientes e objetos onde o tempo do ser humano está presente, por isso, a valorização do feito a mão em contrapartida do que é realizado velozmente pela máquina.

Galeria de espelhos – Palácio Versalles

A casa, como construção, passa a ser pensada para o ser humano e a arquitetura vai priorizar isto, e não a riqueza dos materiais construtivos. É nela que podemos imprimir nosso conceito de vida e que conseguimos sentir a importância de viver bem, quando esse pouco tempo que temos para nós mesmos tem valor especial. A inserção de nossas identidades em nossos ambientes é importante para o reconhecimento do que somos e do que queremos ser, e não do que temos ou queremos ter, ou seja, passamos a entender o prazer de viver em ambientes com os quais nos identificamos e, quando atingimos isso, sentimos isso como luxo devido ao valor que lhe damos.

O luxo contemporâneo não está focado no que temos e adquirimos, ou seja, na materialidade (muito menos que brilha e reluz) e, sim, será encontrado em tudo que nos remete a valorizar nosso tempo de vida e nossas identidades. Mais importante que ter um vaso de cristal é ter um vaso com o qual nos identificamos, porque conhecemos sua origem ou o artista que o executou. Uma casa luxuosa tem uma história para contar.

Um bom exemplo disto é o resultado do concurso de arquitetura de luxo PRIX VERSAILLES (da UNESCO) 2018 conquistado pelo hotel Casa Cook Kos, recém–inaugurado na Grécia, autoria de Mastrominas ARChitecture, um dos escritórios mais famosos de projetos de hospitalidade de luxo, com vários prêmios internacionais por sua arquitetura inovadora e exclusiva baseada na reinterpretação da arquitetura tradicional grega, mas com um vocabulário moderno. São 100 quartos que contam com luxos pequenos e grandes, com casas cubistas de um e dois andares, agrupadas em torno de jardins e pátios.

Os móveis com linhas limpas combinam-se com texturas naturais e ásperas e acessórios exóticos para criar um verdadeiro santuário. “Não importa qual o nível de luxo que você escolhe, o estilo
discreto é fornecido com muito conforto” afirma o hotel. Outro exemplo disso é o hotel Fasano Las Piedras em Punta del Este, Uruguai, projeto de arquitetura de Isay Weinfeld, instalado em uma paisagem dramática e deslumbrante: árida, rochosa e de vegetação esparsa e rasteira. As unidades que compõem o complexo, foram concebidas e distribuídas como módulos isolados de concreto, pousados sobre o terreno, como as próprias pedras que existiam no local, preservando as características rústicas e artesanais.
Se a sua vida anda muito longe de cristais, prata, ouro e veludos, mas você tem real noção do tempo de sua vida aproveitando ao máximo cada momento que o universo lhe oferece, como apreciar o pôr-do-sol ou um bom vinho com os amigos ao redor do fogo, então sua vida é um luxo.

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