Patrick Santos: “A quarentena e a materialização dos invisíveis”

por | 8 jun, 2020 | 0 Comentários

 

Uma das coisas mais legais de quando resolvi desacelerar a minha vida e tirar um período sabático em 2018 foi poder conhecer melhor algumas pessoas que sempre estiveram ao meu redor, mas que pouca atenção eu dava. Eram pessoas quase invisíveis na rotina que eu levava.

Jamais saberia do nascimento do primeiro filho do Wesley, o zelador do meu prédio, em uma época em que ele me abria o portão e eu já estava com a cara enfiada no celular respondendo apressadamente algum e-mail ou Whatsapp de trabalho. Nunca saberia que o segredo de um bom pão na chapa é passar a manteiga com a colher para não machucar a superfície interna das extremidades se não ouvisse com atenção as histórias deliciosas da vida do Gilberto, o chapeiro da padaria do lado de casa. Quantas histórias legais conheci na minha pausa. 

E não é que essa pandemia do coronavírus nos escancarou uma série de funções e de profissões às quais muitas vezes não damos o devido valor? Você já pensou o que seria de sua quarentena se não fossem os motoboys, as caixas de supermercado, os caminhoneiros, os motoristas de ônibus? Você já parou para observar como estariam as lixeiras do seu prédio ou as ruas do seu bairro se a turma da limpeza não colocasse suas vidas em risco em meio a um vírus que pede recolhimento para nos oferecer um mínimo de “normalidade”?

Essa quarentena mais do nunca nos mostra que somos peças de uma mesma engrenagem. Não somos nada sem o outro. 

Desde que tudo isso começou, tenho conversado no meu podcast, o “45 do Primeiro Tempo”, com muitas pessoas de diversas áreas do conhecimento, desde a filosofia até a metafísica, para tentar entender esse momento. Tem algo de semelhante em muitas respostas dos meus entrevistados: “a generosidade pode ser o caminho para um mundo melhor”. Ela é muita poderosa. Quando somos generosos, nos aproximamos do outro, encurtamos distância.

Lembro-me de uma frase da filósofa Lúcia Helena Galvão, que num determinado momento da entrevista, parou e me disse: “Será que a fome é escassez de alimento ou escassez de generosidade?”

Este é o momento de sermos mais generosos e podemos começar sendo generosos com quem está ao nosso lado, dando vida também aos milhões de invisíveis que estão por toda parte. Que tal sairmos dessa quarentena mais generosos?

Patrick Santos é jornalista e escritor, com passagem em redações, como na Jovem Pan. É autor do podcast ’45 do Primeiro Tempo’, onde entrevista pessoas que se reinventaram.

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