PELA PRIMEIRA VEZ EM 90 ANOS, MULHERES ASSUMEM A PRESIDÊNCIA DA OAB EM 4 ESTADOS

por | 9 abr, 2022 | 0 Comentários

Entre as conquistas inéditas está a OAB-SP, considerada a maior seccional do Brasil, com sua nova presidente Patricia Vanzolini. Piracicaba segue o avanço da presença feminina na gestão da Ordem e elege a advogada Fernanda Dal Picolo como primeira mulher eleita na OAB da cidade

Um fato histórico marca o início de 2022 na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Pela primeira vez em 90 anos, quatro seccionais brasileiras passam a contar com uma mulher presidindo a OAB, assumindo o pleito no triênio 2022-2024. Em São Paulo, o comando fica a cargo de Patricia Vanzolini; no Paraná, com Marilena Winter; em Santa Catarina, com Cláudia Prudêncio; e na Bahia, com Daniela Borges, que tem como vice outra mulher, Christianne Gurgel, algo também inédito no país. Para se ter uma ideia, no mandato anterior, todos os 27 presidentes de seccionais eram homens. A OAB Piracicaba também conquista esse marco e elege Fernanda Dal Picolo como a primeira mulher presidente da instituição, desde sua fundação em 1932.  

A Trinova conversou com a advogada criminalista, professora e escritora Patricia Vanzolini, que assumiu a presidência da OAB de São Paulo, a maior seccional do país e que será dirigida por uma mulher pela primeira vez. “A simples presença de uma figura feminina em um cargo decisório, de liderança, abre-nos os olhos e nos dá uma nova dimensão para as questões de gênero. Ter me tornado a primeira presidente da OAB-SP é uma quebra de paradigma, pois foram nove décadas em que só homens estiveram na galeria de presidentes. O fato é que o mundo mudou, o contexto histórico mudou e a Ordem precisava espelhar esse novo momento”, explica a advogada Patricia.

O processo eleitoral da OAB de 2021 foi o primeiro sob o efeito da resolução da paridade de gênero e das cotas raciais, que estabelece que mulheres representem 50% das pessoas em chapas eleitorais e que 30% dos cargos na diretoria, e também de conselheiros em todos os órgãos da OAB, sejam voltados para pretos e pardos durante o período de dez eleições, ou seja, por 30 anos. “As iniciativas da Seccional referentes à paridade, igualdade racial, inclusão de pessoas com deficiência e de pessoas LGBTQIA+ têm de servir de exemplo aos cidadãos. Elas devem extrapolar o âmbito da instituição e servir de parâmetro na construção de uma sociedade mais justa”, acrescenta Vanzolini. 

O resultado histórico de mulheres eleitas é considerado uma mudança mais que necessária, uma vez que mais da metade dos profissionais brasileiros do Direito são mulheres e representa o retrato de décadas de luta feminina no âmbito do Direito. Uma luta desde a criação da OAB, em 1930, em que mulheres não tinham direito ao voto, até chegar em 2016 com a instituição do Plano Nacional de Valorização da Mulher Advogada, que, por lei, obriga a participação de pelo menos 30% de mulheres em todas as comissões da Ordem. 

TORÇO PARA QUE NOSSAS ELEIÇÕES NÃO ENTREM SÓ PARA A HISTÓRIA DA OAB,
MAS QUE SEJAM UM DIVISOR DE ÁGUAS, CONTRIBUINDO PARA QUE LIDERANÇAS FEMININAS TENHAM MAIS VOZ E VEZ NA ADVOCACIA, COMO UM TODO.
PATRICIA VANZOLINI

“Atualmente, no âmbito da OAB-SP, as mulheres correspondem a 46% do total de cargos diretivos das subseções, substancialmente acima da cota de 30% estipulada pelo regulamento de paridade da Ordem. Isso já representa um avanço significativo e animador. Em relação a presidentes, foram eleitas 62, o que corresponde a apenas 25% – revelando que temos muito a avançar. Enfim, torço para que nossas eleições não entrem só para a história da OAB, mas que sejam um divisor de águas, contribuindo para que lideranças femininas tenham mais voz e vez na advocacia, como um todo”, conclui a presidente da OAB São Paulo. 

Pleito em Piracicaba

Fernanda Dal Picolo
A advogada Fernanda Dal Picolo, primeira mulher eleita na OAB Piracicaba é pós-graduada em Direito do Trabalho e Direito Previdenciário e há nove anos atua no Gava Advogados Associados na área trabalhista.

Entre as presidentes das subseções está a advogada Fernanda Dal Picolo, que assumiu a gestão da OAB Piracicaba em janeiro. Para ela, sua candidatura à presidência aconteceu de forma natural. A advogada iniciou suas atividades na OAB Piracicaba como membro da Comissão de Prerrogativas. Posteriormente foi presidente da Comissão da Criança e do Adolescente e integrou a Comissão da Mulher Advogada. Concomitante a isso, atuava, também, na Comissão de Direito do Trabalho, da qual também foi presidente. “Após toda essa trajetória, fui convidada para integrar, em 2018, a chapa que concorreria às eleições, no cargo de Vice-Presidente, quando fomos eleitos para o triênio 2019-2021. Talvez esse diferencial de vivência na Ordem me levou a ser convidada a encabeçar a chapa concorrente nas eleições do ano passado”, explica. 

COM TODAS AS MUDANÇAS HAVIDAS NA SOCIEDADE, COM CERTEZA O SONHO DA MULHER HOJE EM DIA NÃO
SEJA MAIS DE SER DONA DE CASA. ELA QUER ESTAR INSERIDA NO MERCADO DE TRABALHO, SER PROTAGONISTA DAS MUDANÇAS SOCIAIS.
FERNANDA DAL PICOLO

Questionada sobre sua opinião em relação à decisão da Ordem de aplicar a resolução de paridade de gênero e racial para a maior representatividade da diversidade, a presidente da OAB Piracicaba é direta: “No mundo atual não deveria haver espaço para qualquer tipo de segregação, quer seja de gênero, racial, religiosa, enfim, já deveríamos ter civilidade bastante para rechaçar qualquer tipo de cisão.  É triste ver que necessitamos ainda da ‘força da lei’ para que se observem e respeitem as mais elementares normas de convivência social. Todavia, se há aqueles que não possuem sensibilidade social e humana, temos que nos valer da imposição legal para que possamos viver em um lugar melhor”, explica. 

Para a Dra. Fernanda, o resultado histórico do aumento da representatividade feminina na OAB, longe de querer estabelecer uma disputa de gênero, demonstra que as mulheres de hoje em dia estão, realmente, se inserindo na vida da sociedade. “Com todas as mudanças havidas na sociedade, com certeza o sonho da mulher hoje em dia não seja mais de ser dona de casa. Ela quer estar inserida no mercado de trabalho, ser protagonista das mudanças sociais”, conclui a advogada Fernanda, reforçando que essas transformações demonstram que a mulher quer ser protagonista da sua própria história. 

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