Piracicabano tem estudo publicado em relatório da ONU sobre desenvolvimento humano mundial

por | 29 dez, 2022 | 0 Comentários

Pesquisa concluiu que mulheres negras possuem desvantagens gritantes no mercado de trabalho

Um estudo recente que aborda a desigualdade de gênero e raça, idealizado por Daniel de Mattos Höfling, Juliana de Paula Filleti e Daniela Salomão Gorayeb, docentes da FACAMP (Faculdades de Campinas), está presente no Special Report on Human Security 2022 do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) da ONU (Organização das Nações Unidas). 

Para se ter ideia da importância do trabalho, o Special Report embasa o HDR (Human Development Report) da ONU – o maior estudo realizado sobre desenvolvimento humano no mundo. O Special Report sobre desigualdade, contou com 17 artigos de grupos de pesquisas teóricas e empíricas das principais universidades mundiais, sendo 2 delas da América Latina – uma no México e outra no Brasil, da FACAMP. “Foi uma grande alegria e orgulho para nós sabermos que o país entrou com essa pesquisa que traz um tema importante. Isso reforça a relevância do estudo não só para o Brasil mas para o mundo”, conta o professor de Economia, Pesquisador e Diretor da Educação Internacional da FACAMP,  Daniel Höfling, Doutor em Economia pela UNICAMP e morador de Piracicaba.

Menos oportunidade para elas

O resultado da pesquisa sobre desigualdade de gênero e raça concluiu que as mulheres, destacadamente as negras, possuem menos oportunidades de trabalho e menores rendimentos. E se olharmos ao redor podemos ver na prática esse fato. Segundo a pesquisa, que apresenta dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a categoria Serviços Domésticos emprega 15,8% das mulheres negras no Brasil, das quais 74,7% sem nenhum registro formal, revelando extrema precariedade das condições de trabalho. No que tange aos rendimentos, a média do ganho dessas trabalhadoras domésticas informais equivale a apenas 70% do salário-mínimo; isso é o que recebem mais de 2 milhões de mulheres negras no Brasil. “Um cenário triste e real, mas que precisa ser falado, estudado e conhecido”, diz.

Ampliação das desigualdades

Entre os anos de 2015 e 2021 as desigualdades de raça e gênero se ampliaram. “Dentre as razões estão uma crise econômica profunda entre 2015 e 2019, seguida de grande recessão em 2020 (-4,1% de crescimento do PIB), resultando em 14,7% de taxa de desemprego, 29,7% de taxa de subutilização e regressão do PIB per capita”, destaca Daniel.

Ele conta que a pandemia ressaltou ainda mais a desigualdade de gênero. “Com o fechamento das escolas, o isolamento social e home office aumentou muito a sobrecarga do trabalho doméstico feminino”, conta. O economista ressalta ainda que o Programa de Auxílio Emergencial teve sim um papel importante. “Mas insuficiente para proteger os grupos mais vulneráveis”, detalha.

Quando se compara os quatro grupos sociais (mulheres negras, homens negros, mulheres brancas e homens brancos), observam-se mais mudanças na estrutura ocupacional e diferenças significativas no país. 

Os negros são a maioria em todos os níveis de ensino baixo e intermediário: analfabetos (77,5%), ensino fundamental incompleto ou completo (62,8% e 58,1%, respectivamente) e ensino médio incompleto e completo (62,1% e 56,0%, respectivamente). E, mesmo com o mesmo nível educacional, ganham menos. Chama a atenção que os negros estão concentrados em faixas de renda menores em todos os setores. A grande maioria das pessoas que ganha até 1 salário mínimo (SM) é negra (70,5% para quem ganha até 0,5 SM e 63,9% para quem ganha entre 0,5 e 1,0 SM). Por outro lado, examinando-se as maiores rendas, a parcela de negros torna-se bastante reduzida (21,0% entre 10 e 20 SM e 14,5% acima de 20 SM). As ocupações das mulheres estão concentradas em setores como serviços de educação, saúde humana e assistência social, comércio de atacado e varejo e serviços domésticos. O comércio de atacado e varejo é o principal setor que aparece nos quatro grupos sociais.

O estudo evidencia outra questão: a presença de mulheres negras na categoria de força de trabalho potencial é ainda superior, de 39,1%, apesar de perfazerem 28,2% das pessoas em idade ativa. Em comparação, os homens brancos apresentam a situação oposta, são 20,9% da população em idade ativa e apenas 13,5% da força de trabalho potencial. Isso indica que os homens brancos possuem mais possibilidades de trabalhar e condições financeiras para procurar trabalho do que as mulheres, tanto brancas, quanto negras, apesar das diferenças.

O artigo aponta ainda, como principal conclusão, que as desigualdades de gênero e raça, que são estruturadas a partir de elementos históricos e institucionais, foram ampliadas durante a pandemia, afastando a sociedade brasileira dos indicadores mais amplos de democracia, equidade e segurança humana.  “Esses dados são muito importantes pois podem ajudar a pensar caminhos para diminuir essas desigualdades. A pandemia não foi a culpada por essas questões; ela explicitou um problema que é histórico/estrutural na sociedade brasileira”, finaliza Daniel.

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