Um cavaleiro palestrante com muito orgulho

por | 2 jan, 2023 | 0 Comentários

A Síndrome de Down não é empecilho para Claudio Aleoni Arruda construir uma jornada de sucesso e inspiração

A Síndrome de Down nunca foi impedimento para que Claudio Aleoni Arruda, 37 anos, seguisse sua vida realizando sonhos e colecionando conquistas. Nascido em São Paulo, mas morando em Piracicaba desde 2020, ele é palestrante, cavaleiro de concursos, já foi vice-campeão de hipismo, é modelo fotográfico de algumas marcas e recentemente se tornou empreendedor. “Ter alguma dificuldade não significa que seja impossível fazer tudo o que queremos. A felicidade está aí para todos, nas grandes e pequenas conquistas, através dos caminhos que trilhamos dia após dia. Superar cada obstáculo que a vida impõe nos capacita a saltar cada vez mais alto”, conta Claudio, que coleciona medalhas de prática de hipismo.

O esporte sempre fez parte da vida dele. Já praticou natação, futebol, skate, tênis, surf e tênis de mesa. “Mas minha paixão sempre foram os cavalos”, revela. “Aos cinco anos comecei a montar na fazenda da minha avó em Santana do Deserto, Minas Gerais, na égua Borboleta. Desde então, nunca mais parei. Com quinze anos entrei para a Escola de Equitação da Sociedade Hípica Paulista, onde aprendi os fundamentos da equitação e, em seguida, aprendi a saltar. Eu era peão e virei cavaleiro”, afirma.

Lisabeth Arruda, mãe de Claudio, conta que toda a família sempre o incentivou a ser independente, tomar suas decisões, trilhar seus caminhos. “Ele é o primeiro aluno com Síndrome de Down da Escola de Equitação da Sociedade Hípica Paulista a vencer campeonatos pela Federação Paulista de Hipismo”.

Em 2009, Claudio sagrou-se vice-campeão Paulista das Escolas de Equitação na categoria Preliminar (0,60 cm) e Vice-Campeão da Regional Metropolitana, sendo o primeiro atleta com Down a vencer campeonatos pela Federação Paulista de Hipismo, concorrendo de igual para igual. “Todas essas conquistas são frutos do esforço, determinação e força de vontade dele”, diz Lisabeth.

Aos 19 anos, Cláudio teve seu primeiro emprego com carteira assinada na rede de restaurantes Applebee’s em São Paulo. “Após quatro anos, pedi demissão para ir atrás dos meus sonhos : trabalhar com cavalos”.

Contratado pela Empresa Poney Clube Brasil na Hípica Paulista, atuou por 5 anos como Assistente de Instrutor de Equitação. “Eu acredito, você acredita, todos acreditam”. Após esse período assinou seu contrato para trabalhar na Escola de Pôneis da Sociedade Hípica Paulista. “No total atuei por 10 anos na Escola de Pônei da Sociedade Hípica Paulista”, conta Claudio. “O Pônei Clube Brasil não me contratou por lei de cotas, me contratou por meus méritos e por tudo o que eu sei fazer com os cavalos, inclusive saltar.  Eu ensino as crianças a montarem no pônei, por selas e cabeçadas e serem campeões um dia como eu”, se orgulha o cavaleiro.

Para Claudio o contato com os cavalos representa liberdade, terapia, trabalho, contato com crianças e amor pelos bichos. “Vejo o cavalo como esperança de vida, pois com eles aprendi muito e conquistei minha autonomia e independência. O cavalo me ajuda a mostrar todos os meus talentos”, diz. “Eu tive a honra de conhecer o meu ídolo no hipismo, meu espelho de vida: o Doda Miranda. Foi ele que abriu meus olhos para o esporte equestre na minha vida. Ele me ajudou muito e ajuda até hoje. Trabalhamos juntos nas coletivas de Imprensa do maior evento de hipismo da América Latina o Longines Indoor, na Sociedade Hípica Paulista. Fui escolhido para conduzir a Tocha Olímpica nos Jogos Olímpicos Rio 2016, representando o Hipismo no Brasil, e ainda tive o prazer de passar a chama olímpica para meu ídolo do futebol: Casagrande”, relembra Claudio. 

Mudança de rota e tomada de decisão

“A pandemia mudou a minha vida: mudei de cidade e de vida. Vim morar com meus pais no interior em Piracicaba, terra da família de minha mãe”. Foi a partir dessa mudança de endereço que ele tomou a decisão de pedir demissão do seu trabalho da Sociedade Hípica Paulista e começou a se preparar para encarar novos desafios.

Em Piracicaba, passou a trabalhar como voluntário no Centro de Equitação Vila Sabará, atuando na condução de alunos na pista e no cuidado e trato dos animais. Trabalha 3 vezes na semana e monta na modalidade 3 tambores.

Durante a pandemia, Claudio fez cursos on-line de capacitação de serviço de escritório, audiovisual, inglês, programa de educação ao trabalho e empreendedorismo. No curso de empreendedorismo, oferecido pela ONG Asid Brasil, onde hoje atua como embaixador, entrou com o propósito de abrir um centro de Equoterapia, porém, no meio do caminho, mesmo constatando a inviabilidade financeira para tal, foi orientado pela mentoria a continuar como comunicador social, influenciador digital e palestrante.

Paralelo ao trabalho da hípica, Claudio já fazia palestras, mas decidiu que iria empreender. Abriu um MEI (Micro Empreendedor Individual) para formalizar seu trabalho por meio da empresa Clahipismo. “Como palestrante, meu filho aborda temas como inclusão social, inclusão pelo esporte, inclusão no mercado de trabalho, conta sua história de vida e trabalha valores como acessibilidade, autonomia e independência, além de participar nas empresas em rodas de conversas e mesa redonda”, conta orgulhosa Lisabeth.

Claudio conta que percebe que as pessoas ficam muito emocionadas em suas palestras. “Muitas pessoas vem me dizer que eu sou um exemplo, acabam chorando de emoção, dizendo que eu sou uma lição de vida para outras pessoas, que sou uma inspiração. Isso me deixa muito feliz e gosto muito de ser palestrante”, conta.

Claudio também realizou seu sonho de ser garoto propaganda e influenciador digital. “Sou também embaixador do Iniciativa Kids , um projeto que conecta famílias de filhos com e sem deficiência”, diz. “Como embaixador da ONG Asid Brasil, atuo com conteúdos e influenciador digital. Ela me ajuda muito”, conta Claudio. É através da ONG ASID que sou contratado pelas empresas para rodas de conversas e mesas redondas para falar sobre diversidade e inclusão”.

Mudar para Piracicaba foi uma experiência muito positiva para ele. “Adoro a cidade, acho muito bonita. Vou a pé fazer academia, faço meu trabalho voluntário na Hípica Vila Sabará, ajudo nas aulas e sigo fazendo algo que gosto muito que é cuidar dos cavalos”, conta.

Namoro a distância

Claudio namora há quatro anos com Ana Paula e ela mora em São Paulo. “Tentamos nos encontrar alguns finais de semana. Eu vou a São Paulo para vê-la, vamos ao cinema, shopping, restaurante. Nos falamos todas as noites e como todas as pessoas, sonhamos em casar um dia, viajar bastante, passear”, diz.

Mude seu falar que eu mudo meu ouvir

Claudio é um dos coautores do livro “Mude Seu Falar Que Eu Mudo Meu Ouvir”. Trata-se do primeiro livro sobre acessibilidade e comunicação escrito por pessoas com síndrome de Down. A iniciativa do livro surgiu pela inquietação de um grupo formado por seis jovens da Associação Carpe Diem, em São Paulo, que Claudio fazia parte. O grupo sentia necessidade de esclarecer e dar orientações sobre acessibilidade, comunicação e questões relacionadas ao cotidiano de pessoas com deficiência.

Com autoria de Carolina Yuki Fijihira, Ana Beatriz Pierre Paiva, Beatriz Ananias Giordano, Carolina de Vecchio Maia, Carolina Reis Costa Golebski, Claudio Aleoni Arruda e Thiago Rodrigues, a publicação foi criada para servir como base para a mudança de paradigmas envolvendo a deficiência intelectual e auxiliar na compreensão de como essa parcela da população pode exercer maior participação na sociedade.

O que é Síndrome de Down ?

“Síndrome de Down não é doença, é uma genética de 3 cromossomos no cromossomo T21”, conta Claudio.

A síndrome de Down é causada pela presença de três cromossomos no cromossomo 21 em todas ou na maior parte das células de um indivíduo. Isso ocorre na hora da concepção de uma criança. As pessoas com síndrome de Down, ou trissomia do cromossomo 21, têm 47 cromossomos em suas células em vez de 46, como a maior parte da população. A síndrome de Down não é uma doença, mas uma condição da pessoa associada a algumas questões para as quais os pais devem estar atentos desde o nascimento da criança.

As crianças, os jovens e os adultos com síndrome de Down podem ter algumas características semelhantes e estar sujeitos a uma maior incidência de doenças, mas apresentam personalidades e características diferentes e únicas.

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 “Acreditem nos seus sonhos, o meu limite é o meu sonho! Nós podemos fazer tudo! Acreditem nos seus filhos. Meus pais sempre acreditaram em mim”.

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