MARCELO CANÇADO, DIRETOR ADMINISTRATIVO DA EMPRESA, FALA DOS PROJETOS PARA O FUTURO DA COMPANHIA E TAMBÉM SOBRE AS EXPECTATIVAS PARA O BRASIL DO AMANHÃ
Quando Cyro Lopes Cançado, em agosto de 1935, fundou, junto a seu filho, José Agenor Lopes Cançado, e a seu genro, Paulo Afrânio Lessa, a Farmácia do Povo, em Piracicaba, jamais deve ter imaginado o que, 85 anos depois, seria de sua empresa. Atualmente, a Drogal é uma das principais redes de farmácias do país, com 203 unidades, distribuídas em 85 municípios de várias regiões do estado de São Paulo e com ousados planos de expansão. A pretensão é de abrir mais trinta unidades e alcançar outras dez novas cidades ainda este ano. Administrada pela terceira e quarta gerações da família, a empresa, bastante respeitada e tradicional, está sempre atenta às mudanças no mercado e preocupada com a qualidade dos produtos e serviços oferecidos a seus clientes. Além disso, se encontra constantemente em busca do desenvolvimento tecnológico, que possibilita maior agilidade, rotatividade e segurança na reposição de estoques, estando incluso, neste contexto, a inauguração de seu mais novo centro de distribuição, que conta com mais de dez mil metros quadrados de área e capacidade para armazenar até dezessete milhões de itens. Como se não bastasse, a companhia tem o DNA voltado à área social e é referência em projetos beneficentes, esportivos e ambientais. No final de 2019, como forma de homenagear um de seus cofundadores, foi criado o “Instituto José Cançado”, que possibilitou a ampliação do já grande portfólio de ajuda existente para diversas entidades assistenciais. Para falar sobre tudo isso e muito mais, conversamos com Marcelo Cançado, diretor administrativo da Rede Drogal. Além dos temas já mencionados, ele tratou ainda da sucessão nos negócios da família, do futuro do empreendedorismo e das expectativas para o Brasil pós-pandemia. Confira a seguir: TRINOVA — Como a Drogal passou de um pequeno comércio familiar para uma das maiores cadeias de drogarias do país? MARCELO CANÇADO — Principalmente, por conta de foco, resiliência e planejamento. Até 1995, só para se ter uma ideia, a Drogal contava com presença, não só no varejo, mas também no atacado, com uma distribuidora que vendia para terceiros e que era o grande eixo da empresa. De lá para cá, o enfoque mudou, direcionando a nossa atenção 100% para o varejo. A partir de 1998, começamos a fazer planejamentos anuais para o futuro, estabelecendo estimativas para a abertura de novas lojas e estudos de mercado para a definição das cidades que as abrigariam. Aos poucos, extrapolamos os limites de Piracicaba e das localidades próximas e fomos além. Além disso, sempre contamos com uma ótima equipe de colaboradores e isso fez toda a diferença. TRINOVA — A Drogal ainda é uma empresa familiar, administrada profissionalmente, ou este caráter familiar se perdeu com o tempo? MARCELO CANÇADO — Não, de maneira nenhuma. A Drogal é, de fato, familiar, mas bastante profissionalizada. Todos os gestores estudaram muito e estão sempre se atualizando sobre as principais tendências do varejo farmacêutico. As características administrativas da família continuam muito presentes e não queremos perder isso de jeito algum. É um modelo de gestão que vem dando certo. Porém, isso não nos impede de melhorarmos sempre, de buscarmos novas oportunidades e de nos atualizarmos tecnologicamente. Entendemos que isto, hoje, é imprescindível para que qualquer empresa possa se manter no mercado. O fato de sermos uma empresa familiar ajuda a manter a proximidade com os nossos colaboradores e não há tecnologia que possa substituir o fator humano nos negócios. Isto é fundamental.
EM LINHAS GERAIS, TEMOS TIDO UM CRESCIMENTO NO NÚMERO DE FILIAIS ENTRE 10% E 20% AO ANO E INICIAMOS 2020 COM 170 LOJAS E TERMINAMOS COM DUZENTAS. SE CONTINUARMOS NESTE RITMO, ACREDITO QUE, EM 2030, CHEGAREMOS A SEISCENTAS UNIDADES
TRINOVA — Em relação à sucessão familiar, como vocês lidam com o assunto? MARCELO CANÇADO — Atualmente, parte da gestão da empresa já na está quarta geração da família. Além de mim, tem o Ricardo (Cançado), diretor comercial, que é meu irmão; o Roberto (Lessa), que é meu primo, e que apesar de não atuar mais na direção, é sócio e faz parte do Conselho, e o Thiago (Cançado), diretor de expansão, que é meu sobrinho. A gente vê sim, no futuro, uma necessidade de ampliar o número de diretores, seja por meio de herdeiros ou de terceiros, e a questão da sucessão é algo que sempre está no nosso radar, pois é um processo inevitável para todas as empresas que desejam permanecer ativas. TRINOVA — A maior parte dos membros da família trabalha na empresa ou exerce outras atividades? MARCELO CANÇADO — Na atualidade, somos apenas nós quatro. Porém, no passado, outros membros da família também fizeram parte do quadro de colaboradores da Drogal. TRINOVA — Quantos colaboradores trabalham, atualmente, na Rede Drogal? MARCELO CANÇADO — Cerca de quatro mil. TRINOVA — Durante a pandemia, como foi trabalhar com tanta demanda e com uma equipe tão diminuta? MARCELO CANÇADO — Logo de início, afastamos todos os colaboradores pertencentes a grupos de risco e aqueles que, eventualmente, pegaram a Covid-19 ou tiveram contato com pessoas atingidas pela doença. Montamos um protocolo de proteção, tanto em relação a cuidados internos e pessoais, quanto a medidas preventivas relativas ao atendimento ao cliente. Ao final, após muito planejamento, optamos por manter todas as unidades em funcionamento, com equipes auxiliares, organizando um grande remanejamento de pessoal.
É IMPORTANTE MANTER-SE PERMANENTEMENTE CERCADO DE BONS PROFISSIONAIS, POIS ELES AINDA FAZEM A GRANDE DIFERENÇA ENTRE O SUCESSO E O FRACASSO DE UM NEGÓCIO
TRINOVA — Vocês têm a pretensão de continuar expandindo a empresa? MARCELO CANÇADO — Sim. Nosso plano de expansão para 2021 prevê a abertura de mais trinta unidades e o alcance de mais dez novas cidades onde ainda não nos encontramos presentes. TRINOVA — Até 2030, a expectativa é de a rede estar formada por quantas lojas? MARCELO CANÇADO — Embora isto seja definido em nosso planejamento anual, existem vários fatores que podem influenciar a velocidade da abertura de novas unidades. Em linhas gerais, temos tido um crescimento no número de filiais entre 10% e 20% ao ano e iniciamos 2020 com 170 lojas e terminamos com duzentas. Se continuarmos neste ritmo, acredito que, em 2030, chegaremos a seiscentas unidades. TRINOVA — A rede trabalha com o sistema de franquias? Se não, esta possibilidade está em estudo pela companhia? MARCELO CANÇADO — Não trabalhamos com o sistema de franquias e, por enquanto, isto também não está no nosso radar. Temos certo receio em associar a marca Drogal a uma franquia. Em primeiro lugar, por não querermos terceirizar responsabilidades e, em segundo, por conta do ramo da saúde ser bastante complexo e requerer uma atenção especial daquele que nele trabalha como gestor. Queremos manter nosso foco total na qualidade do atendimento ao cliente. TRINOVA — Há o objetivo de alcançar partes do território nacional em que a Drogal ainda não se encontre presente? Se sim, existe alguma proposta neste sentido? MARCELO CANÇADO — Há muito ainda por ser explorado em território paulista, mas também já estamos próximos de Minas Gerais, onde ainda não contamos com nenhuma loja, mas temos pretensão de adentrar. Só não o fizemos ainda, em especial, por conta da questão tributária e da necessidade de estabelecermos um grande número de unidades para a ampliação ser viável. A dificuldade também está na logística. Em algum momento isto acontecerá, ainda que não haja um prazo estabelecido atualmente. TRINOVA — A Drogal inaugurou, em 2020, o seu novo centro de distribuição. Qual é a importância deste projeto, o que muda na organização do trabalho e o quanto eleva o patamar atual da companhia? MARCELO CANÇADO — Esta inauguração foi um marco para a empresa e, de fato, nos coloca em outro patamar. Até então, tínhamos quatro centros de distribuição, cujas atividades foram transferidas para este novo local. Com eles, a gente acabava tendo um retrabalho muito grande. No atual, localizado em Piracicaba, conseguimos concentrar todos os produtos, em maior número, com maior variedade e com ganho em agilidade. Só para se ter uma ideia, conseguimos diminuir o tempo de descarga dos caminhões de quarenta para quatorze minutos. E a melhora é visível, inclusive para os colaboradores, pois a área é muito mais espaçosa e arejada. TRINOVA — A empresa colabora com projetos sociais, esportivos, ambientais e beneficentes. Fale sobre algumas destas iniciativas. MARCELO CANÇADO — A Drogal colabora, principalmente, com entidades voltadas ao auxílio a idosos e crianças, em especial, por meio de ferramentas como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), a Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) e o Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo (ProAC). No final de 2019, também foi criado o “Instituto José Cançado”, cujo nome é uma homenagem ao meu pai, que foi um grande filantropo. Por meio do Instituto, conseguimos centralizar tudo aquilo que se refere a doações e afins, ampliando o nosso portfólio de ajuda para muitas outras entidades. Nesta pandemia, por exemplo, auxiliamos muitas delas com remédios, álcool em gel, máscaras, entre outros itens. Com esta organização, aumentamos também a atenção aos colaboradores. O estresse e a depressão são os males deste século e nós passamos a fornecer, quando necessário, ajuda psicológica a eles com profissionais especializados na área.
NA ÁREA DE SUSTENTABILIDADE, UM DOS PROJETOS PARA 2021 É REDUZIR EM, PELO MENOS, 50% A UTILIZAÇÃO DE PAPEL DENTRO DA EMPRESA, E ISTO, A TECNOLOGIA JÁ ESTÁ NOS AJUDANDO A FAZER
TRINOVA — O que significa para vocês a Drogal ter vencido o “Prêmio Varejo, Serviço & Indústria de Responsabilidade Social e Sustentabilidade”, promovido pela ACIPI (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba) e pela UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba)? MARCELO CANÇADO — Significa o reconhecimento do trabalho que há anos a gente desenvolve nestes setores (da responsabilidade social e da sustentabilidade) e o incentivo para continuarmos sempre buscando o melhor. Este prêmio nos mostra que estamos no caminho certo. Na área de sustentabilidade, um dos projetos para 2021 é reduzir em, pelo menos, 50% a utilização de papel dentro da empresa, e isto, a tecnologia já está nos ajudando a fazer. Desde o ano passado, participamos também de um consórcio que investe na construção de usinas de energia renovável. Em breve, toda a energia utilizada pela empresa virá da chamada “energia limpa”. Por fim, há anos, reciclamos todas as caixas de papelão que recebemos em nosso centro de distribuição. A verba obtida com a venda deste material é 100% destinada a ações sociais. TRINOVA — O que uma empresa precisa fazer para continuar crescendo e se renovando e não perder espaço para a concorrência ou, até mesmo, vir a fechar? MARCELO CANÇADO — Primeiramente, é preciso ter foco e definir suas metas a curto, médio e longo prazo, sempre buscando por inovações que a diferencie de seus concorrentes. Conhecer o mercado de atuação, entender os hábitos e as necessidades de seus clientes e estar sempre atualizado (principalmente, em relação às novas tecnologias) são fatores fundamentais. Também é importante manter-se permanentemente cercado de bons profissionais, pois eles ainda fazem a grande diferença entre o sucesso e o fracasso de um negócio. O comprometimento e o contato humano continuam sendo importantíssimos. Independentemente do tamanho de seu concorrente, o Sol nasce para todos. Todos começam pequenos. Basta que a empresa fique atenta para aproveitar as oportunidades. TRINOVA — O que é preciso fazer para que os colaboradores de uma empresa estejam sempre motivados? MARCELO CANÇADO — Primeiro, eles precisam ter o exemplo. De cima para baixo, o exemplo precisa ser dado. Se você não o der, não vai poder exigir nada de ninguém e todo mundo vai se achar no direito de fazer o que quiser. Depois, é fundamental contar com gestores que não só motivem e deem o exemplo, mas que ensinem, que passem o conhecimento adiante e que observem o ambiente de trabalho para captar as necessidades de seus colaboradores. TRINOVA — Como o senhor vê o futuro do empreendedorismo no Brasil, não só no pós-pandemia, mas também no pós-crise econômica? MARCELO CANÇADO — Sinto que o brasileiro tem uma enorme vocação para empreender. Acredito que o futuro estará na tecnologia, pois vivemos em uma sociedade cada vez mais digitalmente conectada. Este movimento já acontece, principalmente, por meio das startups. Inclusive, nós criamos a Farma Ventures, um hub de inovação a fim de desenvolver novas startups. Então, eu penso que o empreendedorismo vai por este caminho. As fintechs, que começaram pequenas e hoje são gigantes, são um exemplo do que eu digo. Isso mostra que esse já é o principal modelo de empreendedorismo, de desenvolvimento de novos negócios e de novos canais e de maneira sustentável. TRINOVA — O que esperar do Brasil (e do mundo) para 2021? MARCELO CANÇADO — A vacinação será um ponto fundamental. O Brasil é um país com dimensões continentais e até que ela chegue a todos, vai um tempo. Mas alguns setores tiveram um bom ano em 2020, como o farmacêutico, o da construção civil e, principalmente, o do agronegócio. Outros sofreram muito. Acredito e espero que 2021 seja um ano menos difícil. Tudo depende do controle da pandemia e de ferramentas para lidarmos com esse novo cenário mundial pós-Covid-19.
0 comentários