50 anos sem os Beatles: Newman Simões fala sobre influência da banda em sua vida

por | 15 jun, 2020 | 0 Comentários

Esta entrevista faz parte da série “O sonho não acabou: 50 anos sem os Beatles” 

Quando fui designado a fazer uma matéria sobre os 50 anos de separação dos Beatles, veio-me à mente uma apresentação especial do Falando da Vida. Neste show musical e beneficente, o especial com repertório exclusivo dos Beatles foi o que se repetiu por 5 vezes nos 30 anos de apresentações. Confesso que entre os covers do conjunto inglês, o do Falando da Vida foi o que mais me tocou pela fidelidade aos arranjos, pela emoção e vibração com que a banda apresentava sua própria versão. Então, para facilitar minha missão, pedi a seu produtor e diretor, Newman Ribeiro Simões, que me contasse um pouco sobre como os Beatles são lembrados depois de 50 anos de sua separação. Vamos ao papo:

T:  Como surgiu sua paixão pelos Beatles? Tem na lembrança quando ouviu falar pela primeira vez sobre eles? Qual era sua idade?

Newman: Bem, vamos deixar claro. Não é assim uma “paixão” e nem pelos Beatles especificamente. A decantada década de 1960 (do século passado!!) foi repleta de manifestações que anunciavam a chegada de tudo isso que temos hoje, acelerando a vivência no espaço e no tempo. O futuro havia chegado e aquele sopro de vida e energia, represado na juventude varreu o mundo a partir dali.  Quanto a mim, fiz esse percurso dos 13 aos 23 anos, incluindo a universidade. Vivi intensamente aquele turbilhão, assimilando toda emoção que acabou marcando a maneira de sentir o mundo. Gosto de resumir o que foi para mim aquela década nas palavras de Cecília Meireles: “Foi um rio mais profundo/ sem nascimento e sem fim/ que, atravessando este mundo,/ passou por dentro de mim”

T: E os Beatles …

Newman: O mundo pulsava com o agito da juventude que passava a ter voz e se negava a existir apenas como segmento social para o consumo. No Brasil, particularmente, a Bossa Nova, o Tropicalismo, a Jovem Guarda, as músicas de protestos, músicas românticas francesas e italianas. A música ajudou muito a manter a chama acesa e os Beatles sintonizaram toda uma geração numa determinada frequência emocional e marcaram o pulsar de milhões de jovens em todo mundo. Por aqueles anos o mundo parecia voltar à adolescência e a juventude expressou seu sentimento de que a liberdade estava a seu alcance.

De maneira romântica cantávamos com Belchior: “Para abraçar seu irmão/ e abraçar sua menina na rua/ é que se fez/ o seu braço/ o seu lábio/ e a sua voz.”

T:  Qual a canção dos Beatles que mais mexe com você e por quê?

Newman: Em meio a profusão de belíssimas canções é difícil uma, mesmo entre aquelas que são unanimidades; Let It Be, Hey Jude, Yesterday , Penny Lane… Mas, para mim, She’s Leaving Home, que fala sobre uma garota que, deixando a casa dos pais, vai em busca de sua própria vida em liberdade. É uma canção que você não precisa saber a letra para sentir o que eles querem expressar. A música traduz o sentimento que tive ao deixar minha terrinha (Pindorama) e vim para Piracicaba estudar.

T:  Qual álbum você considera o melhor e o que mais você escutou? O que ele tem de especial para você?

Newman: Bem, não tem como não dizer que foi o revolucionário Sgt. Peppers, considerado o melhor disco do século, sedimentando a experiência anterior do grupo e abrindo perspectivas novas para a música. Mas, o que mais ouvi foi o LP duplo Álbum Branco, por circunstâncias pessoais. Foi lançado no emblemático ano de 1968 em que a juventude do mundo todo mostrava sua revolta contra a hipocrisia de presenteá-la com a “guerra fria”, contrariando a expectativa de uma vida saudável que pudesse apagar os horrores da guerra que teve mais de 40 milhões (!!!) de mortos, na quase totalidade jovens (esse era o grupo de risco daquela “panguerrilha”). Depois do AI-5 a política estudantil foi refreada; sobrava tempo para curtir uma rebeldia rítmica, com discos rodando naquela vitrolinha de plástico e de pilha madrugada adentro…

T:  Com qual dos Beatles se identifica mais e por quê?

Newman: Acho que cada um tem sua forte marca individual. A irreverência e rebeldia de John; as deliciosas melodias românticas de Paul e seu baixo melódico (não só de marcação); o talento na guitarra de George e seu sentimento místico; a bateria quase melódica e o semblante de “paz e amor” do Ringo. Não tenho dúvida que o grande mérito musical deles foi reunir tudo isso, principalmente com o irretocável vocal de três vozes (isso foi um diferencial marcante que eles construíram) e arranjadas pela genialidade de G. Martin, mostrando ao mundo o poder de colaboração e respeito pela diferença. Isso deu a eles o poder da harmonia. Vozes diversas compondo uma canção, opostos cantando harmoniosamente juntos como se fossem um só. Aí pode estar uma simbologia forte para pensarmos um mundo melhor; para anteciparmos uma vida harmônica onde ainda vamos chegar. Musicalmente eles conseguiram e chamaram o mundo todo a participar dessa proposta. Não há individualidade nos Beatles. Eles, mesmo sem planejar ou desejar, assinaram musicalmente o sonho de futuro de uma geração: sem harmonia entre as pessoas a sociedade não prosperará. Dos opostos deve nascer, como síntese, a harmonia. A polarização, a intolerância só aprofundam crises, não as resolve. (É claro que isso não se vai conseguir com as músicas dos Beatles, apenas aproveitei a deixa). 

T:  Você lembra de quando eles anunciaram o fim? Se sim, qual foi o sentimento?

Newman: Permita-me começar a resposta com uma frase do Paulinho da Viola: “Eu não vivo no passado. O passado é que vive em mim”. Naquela época, as notícias demoravam a chegar e os rumores da separação tomaríamos hoje como fakenews, mais como lamento e desejo de que não fosse verdade. Em 1969 já estava decretada a separação. Já estava pronto o álbum Let it Be,  mas o seu lançamento foi adiado para 1970. Talvez por compromissos contratuais com as gravadoras, acabaram trabalhando e lançando outro álbum. A icônica capa em que os 4 aparecem atravessando a rua pela faixa de pedestre parecia indicar a separação. Eles estavam deixando, cada um ao seu modo de vestir, o famoso estúdio de Abbey Road (título do álbum). Em 1970, quando John Lennon gritou ao mundo “O Sonho Acabou”, eu estava me formando na ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz). Essas palavras acabaram anunciando que terminava também aquele belo período de minha vida. Mas, veja você, no próximo outubro essa minha turma, que chamamos de A70, completa jubileu de 50 anos de formatura e sabe qual é o mote para agregar os 140 sobreviventes para festejar a saudade? “O Sonho Não Acabou”

T: Após a separação, seguiu a carreira solo dos integrantes? O que mais gostou?

Newman: Paul lançou álbum solo antes de Let it Be; George Harrison lançou um álbum triplo (inédito na época) para mostrar quantas composições dele haviam sido preteridas pela gravadora; Ringo tem vários CDs gravados com belas composições próprias (muitos desconhecem). Imagine é tida como uma das mais belas canções do século e é imagem da face pacifista do rebelde de Lennon. O Flaming Pie, que Paul gravou isolado com esposa Linda no fim da vida, é o álbum de que mais gostei. Mas o que mais gostei mesmo foi poder ter visto Paul, em São Paulo, por três vezes e um surpreendente show do mais querido Beatles para mim: Ringo Star (o mais genial dos beatles, por tolerar e manter os outros três unidos). rsrrsrsrsrs ou kkkkkk, só pra lembrar que se passaram 50 anos!

Leia a séria completa: 

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