Esta matéria faz parte da série “O sonho não acabou: 50 anos sem os Beatles”
O Dia dos Pais do ano de 2007 foi especial. Isso porque três senhores distintos subiram ao palco de um bar em Piracicaba para homenagear a data. Naquela noite, há 13 anos, o baixista José Armando Castro Corte Real e os guitarristas Luiz Antonio de Souza e José Maria Paes da Silva, todos já por volta dos 60 anos naquela época, iniciaram uma jornada musical com a banda Daddy Rock Band, existente até hoje. Mais velhinhos, mas com o mesmo pique, eles seguem tocando o que amam, e isso significa, claro, o repertório dos Beatles.
“Minha paixão pelos Beatles começou em 1964, quando o primeiro compacto foi lançado no Brasil com I Want Hold Your Hand e She Loves You. Foi paixão à primeira vista”, relembra Armando, hoje com 68 anos. Ele tinha 13 anos na época e nunca mais deixou de acompanhar o grupo.
I Want Hold Your Hand também foi impressionante para o jovem Luiz Antonio, 70. Ele tinha 14 anos quando ouviu a música na Rádio Primavera, de Porto Ferreira, onde morava. “Nada foi tão impactante aos meus ouvidos, nem mesmo Elvis e Little Richard, que eu também já conhecia”, disse.
Na lista das canções favoritas de Armando está Rocky Raccoon, presente no The White Album. Já Rubber Soul, de 1965, foi o álbum mais marcante. “Foi uma época importante da minha vida, da infância para a adolescência, quando comecei a tocar violão”, relembra, também ressaltando que George Harrison se tornou o beatle que ele mais admirou e se identificou.
Já Luiz se arrepia quando toca Strawberry Fields Forever. “É uma canção nostálgica, que remete à infância de John Lennon, ao mesmo tempo que é uma obra do período musical revolucionário do banda”. Como cada beatlemaníaco tem suas preferências, Luiz considera Revolver o melhor álbum da banda. “Beatles já tinham dado uma guinada em seus propósitos musicais em Rubber Soul, seu disco anterior. Revolver consolidou o amadurecimento da banda, com composições mais complexas.”
Beatles, foi-se um lindo sonho
Armando também relembrou do fim dos Beatles, quando já estava entrando na idade adulta. “Quando eles anunciaram o fim, além de surpreendente, foi uma coisa muito triste. Para quem gostava de música, quem era aficionado por eles, para quem começou a tocar algum instrumento, a se interessar por inglês, por conta das músicas deles, o fim foi realmente um sentimento de muita tristeza”, disse.
Luiz concorda e reafirma que junto com os Beatles morreu também um pouco da esperança. “O fim dos Beatles representou o fim de um lindo sonho. A utopia de paz e amor anunciava seu dias derradeiros.”
O mundo pós-Beatles
Armando afirmou que encarou o mundo pós-Beatles ouvindo mais música. Isso porque, se ficou órfão de sua banda favorita, outras bandas passaram a estar mais presentes em sua vida como Yes, Rolling Stones, The Who e o músico Eric Clapton. “Depois da separação eu segui a carreira solo de todos eles, mas o que mais gostei foi Paul McCartney, as músicas que ele compôs são fantásticas e ele está na ativa até hoje. É um cara que tem uma energia e uma vitalidade impressionantes.”
Luiz coleciona todos os discos, inclusive da carreira solo dos integrantes. Ele também considera a de Paul McCartney a mais emblemática. “Obstinado pelo que faz, até hoje, Paul é na minha opinião, o maior compositor de música popular do último século”.
Espelho de uma geração
Armando disse que ele e todos os amigos da época se espelhava nos Beatles em tudo, a maneira de se vestir, a maneira de cantar, de tocar, de ver a vida. “Os Beatles representam uma geração inteira, de A a Z. Não tem uma pessoa dessa época, da minha idade, que acompanhou a evolução desde o começo, que não se espelha em muita coisa dos Beatles e se divertiu em muita coisa”, afirmou.
Entre os lançamentos favoritos dos Beatles, Armando lembra com carinho dos filmes. Ele tem cópias até hoje e geralmente faz sessões de cinema com A Hard Days Night (1964), Help (1965), Magical Mystery Tour (1967), Yellow Submarine (1968) e Let it Be (1969). “Eu gosto muito de relembrar. É uma coisa que está na minha vida desde os 13 anos e segue até hoje. Vou levar até quando eu partir pro andar superior esse amor e esse gosto por eles e que pra mim não existe nada igual.”
E a diversão também sobe aos palcos com a Daddy Rock Band. “Tocar Beatles, além da responsabilidade, é uma grande alegria e uma grata oportunidade de reviver as músicas que marcaram a minha juventude e auxiliaram na minha educação e formação”, disse Luiz, que se diz uma pessoa antes e outra depois de Beatles. “A existência dos Beatles, por si só, mudou a minha vida, o meu modo de ver o mundo e a minha convivência social. Tornou-me mais humano. Esse é o poder da sua obra!”
Beatles nas pistas de dança
As pistas de dança ficam bem mais cosmopolitas quando o DJ Rubens Ca assume o controle das pick-ups das festas em que atua na capital paulista. Isso porque ele consegue misturar clássicos da MPB com nomes menos conhecidos do Tropicalismo e da música pop, misturando com o rock dos anos 1960 e moderno. E, claro, não pode faltar Beatles, uma de suas maiores paixões.
Rubens afirma que sua paixão veio de sopetão aos seis anos de idade. “Minha família veio Araçatuba para São Paulo em fevereiro de 1964. Nessa época todo mundo ouvia rádio. Tocava Beatles, Roberto Carlos… Eu fiquei apaixonado, amor tota”, disse o DJ. Ele também lembra quando anunciaram o fim. “A impressão que eu tive era que tinha morrido alguém. Foi uma coisa dolorosa, tristíssima”, afirma.
Rubens Ca diz que houve uma grande transformação em todo o seu ser depois que ouviu pela primeira vez Beatles. “Eu não existiria se não fosse os Beatles, eticamente, moralmente, a maneira como corto o meu cabelo. Eles são tudo na minha vida, importantíssimos. Eles são necessários como a água, o ar.”
Como DJ e apreciador de música, Rubens analisa a influência dos Beatles em todas as gerações seguintes. “Musicalmente, eles fizeram tudo, eram ótimos compositores, sempre inovaram sonoramente. Influenciaram, influenciam e continuarão influenciando”, ressaltou.
Rubens também destaca que a originalidade das composições ocorreu por eles serem de Liverpool, interior da Inglaterra, e não tinham a influência da capital, Londres. “Love Me Do era muito diferente de tudo o que se fazia para a época. Eles foram inovando de álbum para álbum. São exemplo de revolução permanente.”
Leia a séria completa:
O sonho não acabou: 50 anos sem os Beatles
Liverpool: onde o sonho não acabou
50 anos sem os Beatles: Newman Simões fala sobre influência da banda em sua vida
0 comentários