PAULO MENDES DA ROCHA: A LENDA DA ARQUITETURA ATRAVÉS DE SUAS OBRAS

A vida nos prega peças e assim como a ela chegamos, infelizmente, dela partimos. E foi desse modo que, no último dia 23 de maio, vítima de um câncer de pulmão, Paulo Mendes da Rocha nos deixou sem sobreaviso. Esta matéria era para ser uma celebração à sua vida, mas acabou se tornando uma ode ao seu incrível legado.

Autor de diversos projetos que sempre dividiram a crítica especializada e vencedor, em 2006, do Prêmio Pritzker, o mais importante da arquitetura mundial, o capixaba, sem dúvida nenhuma, se tornou, ao longo das últimas décadas, um dos mais importantes nomes da “arte de transformar uma ideia em coisa”, tal como ele definia a sua profissão.

Nascido em Vitória, em 1928, formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1954, onde passou a se interessar pela arquitetura moderna, em especial, a proposta por Vilanova Artigas e a Escola Paulista, baseada no movimento brutalista, que buscava nunca esconder os elementos estruturais das edificações, tais como, o concreto armado aparente ou os perfis metálicos de vigas e pilares.

Desde o ginásio do Club Athletico Paulistano, de 1958, sua primeira obra, até o Sesc 24 de Maio, de 2017, uma de suas últimas, sempre prezou por “uma visão poética sobre a forma que superasse a necessidade estrita”.

Seja pela qualidade, criatividade ou polemização de seus projetos ou tudo isso junto, o importante é que Paulo Mendes da Rocha nunca parou e foi um dos grandes nomes da arquitetura mundial.

A seguir, apresentamos quatro de seus projetos arquitetônicos residenciais mais conhecidos e aclamados. Concebidos em um espaço de trinta anos, representam distintas fases e facetas de sua vida e de seu trabalho. Conheça as casas Celso Silveira Mello, Butantã, Gerber e Gerassi.

Regozije-se com o trabalho deste gênio!

CASA CELSO SILVEIRA MELLO

Piracicaba/SP – 1962

A grande obra do arquiteto em Piracicaba fica no bairro Cidade Jardim. A edificação, que leva o nome de um empresário do ramo canavieiro, marca o início do emprego da linguagem do concreto armado aparente na arquitetura residencial do artista e, por isso mesmo, é tão histórica e revolucionária. Inclusive, o evento realizado para a inauguração da revista Trinova, em 2019, aconteceu no local.

CASA BUTANTÃ

São Paulo/SP – 1966

Projetada em 1964 e concluída dois anos mais tarde, a Casa Butantã, que Paulo Mendes erigiu no bairro em questão para viver com a sua família entre os anos 70 e 90, é, segundo ele próprio, “um ensaio de peças pré-fabricadas”. Nela foi incorporado quase todos os princípios que fundamentavam o ideário moderno, transformando-a em um verdadeiro laboratório, onde a franqueza no emprego do concreto armado, deixado sem revestimento, expressa seus atributos de rudeza, austeridade e força. Sua construção acompanhou o acirramento do clima político no Brasil e deu-se em meio a uma discussão sobre o processo de industrialização e de aceleração da expansão urbana do país, representada pela construção de Brasília.

CASA GERBER

Angra dos Reis/RJ – 1974

Localizada na Baía da Ribeira, com vistas para a Ilha Redonda e a Serra da Bocaina, a Casa Gerber se encontra entre duas praias, encravada em uma rocha que forma uma península. Sustentada por quatro pilares em balanço sobre o mar, este é visto através de todas as janelas e portas da residência. Com área construída de 350 metros quadrados, conta ainda com terraços, deques, ancoradouro e estacionamento.

CASA GERASSI

São Paulo – SP – 1991

Projetada para a família do engenheiro Antônio Gerassi, a residência localizada no Alto de Pinheiros, na capital paulista, se destaca por sua estrutura de concreto pré-moldado, sistema usado até então só para construções populares e grandes obras públicas. O resultado foi uma casa inteiramente suspensa, com o vão do térreo de mais de quinze metros totalmente livre, utilizado apenas para garagem e espaço de lazer. Os únicos pontos de contato com o chão são os pilares delgados e a escada de acesso. Com 420 metros quadrados de área construída, representou grande inovação na construção civil do final dos anos 80 e início dos 90.

CURIOSIDADES

PIRACICABA

Além da Casa Celso Silveira Mello, Paulo Mendes da Rocha foi o responsável por outro grandioso projeto na cidade de Piracicaba. Em 2006, ele apresentou um plano de revitalização do complexo do Engenho Central. O estudo, contratado e doado à municipalidade pela Cosan, nunca foi realizado, mas previa a implantação de duas novas passarelas de pedestres, que conectariam as margens do Rio Piracicaba, além de dois novos restaurantes, um teatro, um centro de convenções e um grande pavilhão para a realização de eventos. Ao final, foram construídos o teatro e uma das passarelas, mas com projetos diferentes do original, efetuados, posteriormente, por outros arquitetos.

TAL PAI, TAIS FILHOS

Pai de seis filhos, Paulo Mendes da Rocha viu três deles seguirem o seu caminho profissional. Pedro, um desenvolvedor de projetos museográficos e culturais, é um dos responsáveis pela edificação da nova unidade do Serviço Social do Comércio (Sesc), em Limeira. Guilherme, por sua vez, atua, desde 1993, como docente e já realizou projetos para agências bancárias, residências e sedes administrativas de empresas. Nadezhda, por fim, trabalha de maneira independente com produções em design gráfico; de mobiliário; joias; arte e intervenção; e arquitetura.

DIREITOS POLÍTICOS CASSADOS

Quando professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP), por suas ideias de cunho social, teve, em 1969, seus direitos políticos cassados pelos militares no poder e foi proibido de dar aulas, retornando à cátedra, somente, em 1980.

MUITAS VEZES HOMENAGEADO

Além do Pritzker, o arquiteto também foi galardoado com inúmeros outros prêmios, dentre os quais, o Mies van der Rohe para a América Latina, pelo projeto de reforma da Pinacoteca do Estado, em 2001; o Leão de Ouro, da Bienal de Veneza, na categoria Arquitetura, pelo conjunto da obra, em 2016; e no mesmo ano, com o Prêmio Imperial do Japão, um dos mais prestigiosos de todo o mundo. Além disso, ele foi agraciado também com a Medalha de Ouro do Royal Institute of British Architects (RIBA), em 2017.

OBRAS POLÊMICAS

Como todos os grandes artistas, Paulo Mendes da Rocha também não escapou de polêmicas. Uma delas, por exemplo, foi a referente ao pórtico localizado na Praça do Patriarca, em São Paulo, que, segundo críticos, destoa do restante do conjunto arquitetônico ali existente e “encobre” a vista da Igreja de Santo Antônio, um monumento histórico datado do século 16 e que já foi, por um período, a Matriz da capital.

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